Hora da verdade

Numa sala, o silêncio só era quebrado pelos lamentos dos pobres ventiladores que, mesmo cansados, davam tudo de si para amenizar o intenso calor daquela tarde de setembro. Naquele espaço, uma professora, mergulhada no mundo obscuro das correções de atividades escolares, deslizava, ininterruptamente, o experiente e atento olhar sobre uma folha de caderno, apoiada sobre mais de uma dezena de outras semelhantes, onde foram registradas as produções dos alunos daquela turma, cuja sala só não se encontrava completamente vazia naquele momento, porque ainda buscava, talvez em outra dimensão, a respostas adequadas a algumas questões registradas numa folha de caderno, um aluno, que até dava impressão de ter perdido os movimentos. Deparando-me com aquele cenário de carteiras vazias onde outros estudantes, há pouco, estiveram a confrontar o desafiante acerto de contas. A cada minuto vencido, a falta de preparo tratava de intensificar a tortura de quem deveria concluir com êxito aquelas atividades que resultariam em vitória ou derrota para ambos: aluno e professora. Os demais também tiveram aquele desafio e haviam deixado a sala. Se conseguiram cumprir as propostas ou não só a professora viria a constatar algum tempo depois, mas lá eu me via em outro dilema: Quem, por ventura demonstrava maior comprometimento? Os outros que haviam deixado a sala ou aquele pobre coitado que sofria a cada volta dos ponteiros de um inimigo relógio que não lhe dava trégua?

Os outros poderiam ter se preparado e cumprido o determinado ou terem desistido sem ao menos se empenhar como a solitária e imóvel figura que não se dava por vencida. Como interpretar tal situação?

Voltando minha atenção novamente a aquele aluno que parecia estar hipnotizado e à professora que talvez possuísse visão raio x, não resisti ao impulso de, outra vez, visitar o campo sensorial daquelas duas personagens daquele mundo onde se cruzavam aspectos de realidade e de sonho. Lá se encontravam os sonhos de quem almejava apropriar se cada vez mais dos conhecimentos e os sonhos de quem ambicionava aperfeiçoar cada dia mais em sua profissão; a realidade daquele que se sentia, a cada minuto, mais embaraçado diante da difícil empreitada e daquela que constatava o êxito ou o fracasso a cada atividade corrigida, resultando a ambos um momento de reflexão sobre como prosseguir a caminhada em busca da perfeição.

Na vida de todos nós, seres humanos, o mundo real e o imaginário se fazem presentes a influenciar-nos durante a caminhada pelas trilhas da existência.

Valviega
Enviado por Valviega em 01/10/2016
Reeditado em 09/11/2016
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