Um vate alencarino

      No Recanto das letras, todos os dias, centenas de bons poetas divulgam seus versos. Desde um inspirado e longo poema; um apaixonado soneto; a uma simples e inteligente quadrinha. 
       Há outros belos poetas, que mesmo vivendo em plena era da informática, sua poesia, por isso ou aquilo, ainda não chegou  aos olhos do mundo, através da internet.

      Recebi do meu amigo cearense Chico Luiz de Oliveira, um apaixonado pela boa literatura, retalhos da obra do poeta  Alberto de Moura. Esse vate alencarino nasceu na cidade do Cedro. Este mês, ele completou 92 anos de idade e, segundo Chico Luiz, ele está "em plena forma".

      Transcrevo no meu site, com imensa alegria, dois sonetos seus, cujo tema é a Guerra de Canudos liderada pelo carismático Antônio Vicente Mendes Maciel, o beato Antônio Conselheiro.  
      Nascido em Quixeramobim, Ceará, em 13 de maio de 1830, o Conselheiro morreu, no interior da Bahia, no dia 22 de outubro de 1897.

       Vamos aos sonetos do poeta Alberto de Moura.

      "C A N U D O S

      Junto ao Vasa-Barris, o arraial de Canudos
      Tinha, a centralizá-lo, uma antiga escola.
      E nele o Conselheiro, astuto, se encastela
     Com seu rebanho fiel, de jagunços sanhudos.

      Cingido pelo rio e alguns cerros desnudos,
      Entre os quais avultava o monte da Favela,
      O povoado era, assim, natural cidadela
      Que não se renderia aos embates mais rudos.

      Implantou ele, então, no pobre vilarejo
      A mais dura moral e uma inflexível ordem,
      Para disciplinar o bronco sertanejo.

      "Era o lugar sagrado", isento de delito,
      Onde não haveria os germes da desordem
      Nem entraria "a ação do governo maldito".


      "Antônio Conselheiro

      Atraiçoado no lar, que abandona, erradio
      Procura a solidão, julgando-a benfazeja.
      Adota nova vida, extravagante e andeja,
      Pervagando o sertão, como um desvario.

      Já seguido de fiéis e agindo a seu feitio
       Prega e promove o bem à gente sertaneja:
      Aqui funda uma vila, além faz uma igreja,
      Mais adiante é um açude a todos prestadio.

      Conselheiro de prol, benfeitor e profeta,
      Sua fama se estende, o que então lhe acarreta
      Certa repulsa hostil do clero e de mandões....
      
      Por fim, com a multidão de adeptos façanhudos
      Transforma o lugarejo humilde de Canudos
      Em vasta cidadela e Meca dos sertões.


      Disse tudo, em dois formidáveis sonetos. É assim que fazem os poetas de verdade...

   


     





 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 24/07/2007
Reeditado em 10/12/2020
Código do texto: T577797
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