Falá i iscrevê: eis a questão
Já pensô se nois iscrevesse ixatamenti comu se fala? Oi! Iscrevê nunca foi e nunca será a merma coisa qui falá. Quandu a genti fala, o corpo todo tá falando: mão, dedo, cabeça, boca, olho, até a sobrancelha dá a sua contribuição. Já quandu a genti iscreve, a palavra é a nossa única companhêra; é ela e acabô; com uma ajudinha , é claru, dos sinais de pontuação e da velha gramática pra dá a coerência e a coezão. Na fala é assim: você diz u qui tem pra dizê, u qui dá na telha. Vai saindo...saindo...depois é qui vai vê u resultado, Nessa brincadêra, “Maria perdeu u avião, brigô cum marido, bateu no filho, o pai morreu porque num deu tempu de isperá u remédio, i pra acaba di completá ficô doida e foi mora dibaxo da ponti di São Juaquim”, Tudu isso purcausa di uma palavra mau impregada. Já quandu a genti iscreve, tem um quartinho nu fundo di casa preparado pra isso. Dá tempu di pará, pensá na morte da bizerra, se a palavra fugi... cauma! Peraí! Daqui a pôco ela vota. E assim vamo catando palavra comu se cata fejão: apruveita u qui é bom e u qui num presta joga fora. A genti até tenta iscrevê comu se fala. Mas a verdade é qui uma coisa num tem nada a vê cum a outra: falá é uma coisa, iscrevê é outra totalmente diferenti.
Laert Junior