Contrastes

CONTRASTES

No prédio onde moro há garagem. Uma garagem se localiza no prédio em que moro. Moro onde, embaixo do prédio, existe uma garagem. Esta introdução é redundante sim, muito repetitiva, mas não tanto quanto o que há dentro da garagem do meu prédio.Carros, carros e mais carros do mesmo luxo, às vezes, de marca igual, e até, do mesmo modelo. Acho que lá é o único lugar onde o contraste não tem vez.

Saindo do subsolo e mais um pouco a frente, vejo o que realmente é o mundo, ou melhor, submundo, o subúrbio. Agora sim é a vez do contraste. De um lado, os prédios, o concreto bem armado, os bacanas bem amados e, misturado, a favela, com o cimento descascado, tijolos quebrados e elementos fortemente armados.

Prossigo o meu passeio, percebo ainda mais a desigualdade social, a eterna rainha do Rio de Janeiro, a qual impera desde que me conheço por gente. Me canso de ver sujeitos barbudos, sujos e mal vestidos, deitados no meio da calçada, atrapalhando a movimentação de trabalhadores de terno, com maleta na mão e sapatos de couro brilhando, que passam por cima dos pobres mendigo, e que, ao invés de, mendigarem o pão, são mendigados pelos pombos e moscas ao seu redor. Rio de Janeiro: Cidade Maravilhosa? Longe disso !

Infelizmente, é dessa forma que é o nosso Rio. Uma cidade de contrastes, onde o pobre tem vez só na hora do sofrimento, quando anda de ônibus, quando espera nas gigantescas filas dos hospitais, no instante da sua injusta prisão, e até no momento em que come por um real. E onde o rico anda de carro blindado, é atendido nos hospitais particulares, dá comida farta à sua família e até para seus animais e, ainda, suborna a Justiça, conseguindo fazer dela uma injustiça.

Ao final do dia, volto para a garagem do meu prédio e durmo dentro do carro mesmo, para ver se consigo sonhar com um lugar sem contrastes.