Diário de Sonhos - #107: Paralisado
Aproveitando que estou escrevendo essa onda de sonhos que estou tendo ultimamente resolvi reler alguns. Procurei e procurei mas não encontrei uma das coisas mais incríveis e de longe a mais assustadora que já tive após acordar. Lembro que assim que acordei corri pra contar pra amiga Cíntia e achei que tivesse escrito aqui, mas não escrevi. Estranho.
Eu não lembro com o que estava sonhando. Só lembro que acordei. Sim, estava acordado, desperto. Não muito sonolento, na verdade tinha acordado com se alguém tivesse me chamado. Estava em meu quarto, era manhã de um sábado. Acredito que estava no início de minhas férias ou há poucas semanas destas. Estava deitado de lado, sobre meu braço esquerdo. Acordei mas não conseguia me mexer. Não tinha controle sobre meu corpo. Estava acordado, meus olhos se mexiam, mas meus braços, pernas, pescoço não respondiam à minha vontade. Senti como se uma mão passasse por mim, começando na cintura, subindo pelos braços, ombros... Quando chegou ao pescoço senti uma força o apertando, como se quisesse me enforcar. Entro em desespero. Não consigo respirar direito, estou sufocando. Então ouço uma respiração bem perto de meu ouvido direito. Uma respiração lenta e grave, como uma fera, um leão ou algo do tipo. Tento me mover, por dentro me debato. Finalmente consigo me mexer e pulo da cama eu completo estado de euforia. Desço as escadas correndo, olho na sala, olho na cozinha, nos banheiros. Abro a porta do quintal e olho tudo, vou até o quartinho e abro o armário, vou à lavanderia. Volto correndo pro meu quarto, abro a janela e procuro na laje. Nada. A essa hora minha mãe já acordou assustada e pergunta o que houve. Digo que tinha alguém me enforcando e respirando no meu pescoço. Ela não entende. Vasculhamos a casa e nada. Minha cabeça está a milhão. Ainda sinto a sensação do aperto, da respiração em meu pescoço. Sento na cama, lágrimas escorrendo de meus olhos e conto tudo. Ela meio que ri no começo, mas sei que por dentro ela está assustada também. Minha mãe é uma pessoa muito religiosa, cristã. Ela acredita nessas coisas de demônios e espíritos do mal. Ela me consola, diz que eu devia estar sonhando. Mas eu confirmo que não. Nunca, NUNCA em minha vida eu passei por nada daquilo. Estava completamente desperto, completamente consciente e tudo o que eu senti e ouvi era tão real quanto eu mesmo. Tenho certeza que neste dia ela orou muito por mim, em casa e na igreja. Inclusive contou para uma amiga igualmente religiosa.
Tão logo eu acordei fui correndo pro computador. Precisava contar aquilo pra alguém, mas não queria por telefone nem nada do tipo. Contei pra amiga Cíntia. Ela me acalmou e acabou me convencendo que é um negócio chamado paralisia do sono. Na hora li algumas coisas sobre isso e convenci a mim mesmo que era apenas isso. Mas sabe, existem coisas, eventos que acontecem com a gente que por mais que o mundo diga o contrário temos certeza de que realmente foi daquele jeito. Eu vivenciei aquilo sozinho, e tenho certeza que senti o que senti, de que ouvi o que ouvi.
Foi a partir deste dia que comecei a ter medo dessas coisas. Foi quando minha mística começou a questionar minha racionalidade e cutucar as perguntas. "A ciência e a lógica não podem explicar tudo". "Talvez exista mesmo essa coisa de forças do bem e forças do mal, e talvez você esteja sendo engolido pela parte ruim desse equilíbrio". Mais do que tudo eu acredito no equilíbrio. Yin-yang é um dos símbolos mais belos já concebidos pelo ser humano, pois representa os dois polos que governam o caráter humano: a bondade e a maldade.
Sabe, apesar desse meu jeito, depressivo, mau humorado, rancoroso, ácido, ingrato e autodestrutivo, nunca em nenhum momento de minha vida me considerei um ser das trevas. Apesar de estar sempre rodeado pela escuridão, de viver nas trevas, me considero um ser da luz, que através do sofrimento e privações trabalha em prol da bondade. O pontinho branco rodeado de preto, o yin dentro de yang. Viver nas trevas para servir à luz. Espero que depois que eu morrer o criador de tudo, seja ele Deus, Vishnu, Rá ou qualquer que seja a(s) entidade(s), espero que ele leve isso em consideração. Que em minha próxima encarnação eu possa baixar esta pesada armadura de fel que criei em torno de mim, que não tenha mais medo de me expor ao Sol e regozijar ao lado de outros servos da luz também. Que na próxima encarnação outra pessoa tome meu lugar e eu possa a apoiar, assim como muitos me apoiam nesta encarnação.
São Paulo, trinta de setembro de dois mil e dezesseis.