Crueldade

Ser bom não tem graça, o barato é ser cruel.

Ser bom faz de você um ser como os outros, comuns.

Ser cruel não, ser cruel te torna popular, te torna inatingível, supremo.

O poder oculto atrás da crueldade fascina, inebria.

Mostra a todos sua força, afinal tem de ser forte para ser cruel.

As vítimas da nossa crueldade pouco importam, são boas de mais para os cruéis, se fossem mais espertas se defenderiam.

Olho por olho, dente por dente, assim já se falava a mais de mil anos.

Amar está fora de moda, o bom é competir, e ganhar. Pro cruel pouco importa como, o barato mesmo é ganhar.

Amar a seu Deus sobre todas as coisas e à seu próximo como a ti mesmo, quem inventou isso, deve ter sido alguém sem fortalezas.

Não roubar, não matar, não cobiçar, respeitar pai e mãe, balela né.

O cruel pode ser ainda egoísta, isso faz com que continue firme em seu caminho.

Sou onipotente! É o que pensa o cruel. Nada poderá me destruir.

Aí conversa vai, conversa vem, e tudo se reverte.

Diz-se por aí a boca pequena, que tudo que deseja, ou faz, volta em dobro, é alei da ação e reação se apresentando.

Os furacões do remorso, os maremotos de arrependimento, os deslizamentos de valores equivocados, a fome de amor, a sede de esperança viram tormentas ininterruptas.

Quanta dor causada, mas Deus é benevolente, e trás o amanhã, para que ele reconstrua os muros derrubados, as casas destelhadas, os corações dilacerados.

E o cruel decide que vai ser bom, não quer mais humilhar, não há mais cinismo em seu olhar, há uma vontade suprema de ser correto, de ajudar, de glorificar.

Ele quer ser eternamente transparente, para não correr o risco de alimentar a bactéria da crueldade, que por tanto tempo habitou seu organismo.

Imagina se foi isso o que ocorreu com os grandes homens da história.

Certa vez ouviu que Hitler teria sido um enviado de Deus à terra para trazer o progresso e a prosperidade, mas fracassou, trouxe a iniquidade, e uma mancha perpétua da história mundial.

Tantos outros se fizeram conhecidos antes e depois desse homem, e tantos fracassaram, talvez tenha sido essa bactéria.

E por mais que o homem seja capaz de criar doenças e curas em laboratórios, jamais em sua existência será capaz de reproduzir ou corrigir falhas dessa cadeia de gens do ser humano.

Pudesse o homem criar vacinas para combater a crueldade, ou a leviandade, e a população estaria livre das mazelas desta vida.

Porque só há de ser crueldade, tanta necessidade de alimento, de trabalho, de honestidade em uma terra onde se plantando, tudo se colhe.