Docência Sem Decência Em Uma Escola Analógica
Sou professor casado com uma professora, porque, afinal, desgraça pouca é bobagem. Temos três filhas e nenhuma quis seguir a nossa profissão. A mais velha é médica e as outras duas, dentistas. Isto não foi por acaso, pois qual pai ou mãe, em sã consciência, encorajaria seus filhos a seguirem a carreira docente em um país que não valoriza, não dá a devida importância à educação? A título de exemplo e sem desmerecer a empregada doméstica, esta profissional, que já nasceu pronta, não precisou investir na profissão e nem estudar a vida inteira, ganha mais que um professor ou professora em início de carreira.
O professor, além de mal remunerado, de trabalhar em condições insalubres e precárias, tem de enfrentar a violência instalada, sobretudo, nas escolas públicas. Não bastasse remunerar mal, o magistério virou profissão-perigo. Frequentemente profissionais da educação são agredidos por alunos delinquentes e membros de sua comunidade e viram notícias nas páginas policiais da imprensa e nos telejornais em rede nacional.
As escolas brasileiras pararam no tempo: seu modelo é do século XVIII e atendem a estudantes do século XXI. Elas são analógicas num mundo totalmente digital. Há uma incompatibilidade cultural e de linguagem entre as escolas e seus alunos. Tudo que menos precisa neste contexto é aumentar a carga horária de permanência do discente nesta escola, pois isso só aumentaria o seu sofrimento e sua aversão à prática pedagógica e ao ambiente escolar. A escola precisa se modernizar, sair do analógico para o digital. Seus profissionais precisam ser capacitados, muito bem remunerados e terem o devido reconhecimento de toda a sociedade.
O país precisa investir pesado na educação, na ciência, na pesquisa e na tecnologia para progredir e sustentar um eventual crescimento econômico. Este investimento passa necessária e fundamentalmente pela melhoria da qualidade da educação e valorização de seus profissionais. E não é aumentando carga horária e eliminando disciplinas que se atinge esta meta.
Não adiantam campanhas publicitárias tímidas para estimular os jovens a seguirem a carreira do magistério se não houver uma efetiva política de valorização e modernização do sistema de ensino do país de modo a tornar a profissão atraente e competitiva.