a encantação pelo riso

Acabara de abaixar com um saquinho de plástico “acacabou” enrolado na mão, a fim de recolher os flaconetes de bosta expurgados pelo meu cachorrinho; repentinamente ela apareceu vestindo uma blusa verde, com o capuz na cabeça por causa do frio de Sampa, então, sua cachorra (era cachorra porque meu Huguinho não latia endemoninhado como fazia quando era outro macho) saltou sobre meu braço a me lamber e a me mordiscar, brinquei, proferi palavras carinhosas, perguntei o nome da cachorra, “Lola” “ó que coisa mais linda Lola”.

Olhando em seus olhos (o da mulher) esperei, vi uma fiada de cabelos pretos ondulados, escorrendo pelo capuz– rosto branco, queixo redondo, olhos que podiam ficar tão perto de mim... Quando pessoas se encontram enquanto passeiam com seus pets, falam basicamente de pets, de seus hábitos, o quanto são levados, o quanto são amáveis (menos meu Huguinho!), enfim, resolvi mudar o assunto “sabe um sinônimo para a palavra pródigo?”

“Oi”? respondeu desconcertada, “você quer dizer mais ou menos como a volta do filho pródigo? Hummm... arrependido, talvez?”

Ri, ridente, poucos e amarelados dentes, “é o que a maioria das pessoas associa, mas talvez seja mais adequado “perdulário” que significa que o filho gastou toda sua grana inopinadamente, eu esqueço muitas palavras e quis repetir esta pra você, perdulário!” tentei me explicar. Foi um bom começo, porque ela sorriu, sorrisonhos, risonhos, uma arcada completa, branca, um dos caninos levemente em desalinho com o primeiro prémolar, bela, assimetria mais que perfeita! Encantado, parti, puxando a coleira do cachorro.

Homem de preto
Enviado por Homem de preto em 28/09/2016
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