CENAS COTIDIANAS - PAIS E FILHOS (Coletânea de mini crônicas)

PASTEL

Domingo de manhã. Feira. Barraca de pastel.

Vi quando o homem na minha frente pediu dois: um de carne e um de queijo.

Na área reservada a comer, depois de alguma distração reparei no cuidado desse homem com o filho (um menininho vestido de são-paulino)

O guri tenta pegar a latinha de refrigerante e o pai: "Não, Tales! Você vai derrubar, toma aqui ó, no canudinho que nem o pai"

A propósito sou contra dar refrigerante pra uma criança de três ou quatro anos, que dirá mais novo. Enfim, o filho não é meu... Como se diz "Quem pariu Mateus que balance"

PAI: Aqui filho, assopra. Tá quente. Esse aí tem aquele "branquinho que você gosta". Como é que chama.

FILHO: Pastel.

PAI: É filho, é pastel. Mas aí ó. O que tem dentro dele?

FILHO: Fumaça.

(Publicado originalmente no Facebook em 11/09/2016)

FAMÍLIA NA BIBLIOTECA

Estou na biblioteca, folheando alguns livros, chega o rapaz com o filho. O rapaz que sentou numa poltrona a alguns metros de mim parecia saído de academia: camiseta machão, todo sarado, boné, etc; enfim um visual que contrastava com seu interesse por filosofia, pois vi quando pegou o livro ( eu sei preconceito bobo...)

O filho dele, uns três anos ia e voltava com seus passinhos cambaleantes até as prateleiras e trazia livros pro pai. Colocava no colo do pai e falava: "Pra mamãe", "Pra nana", "Vovó”.

O rapaz: "Guilherme vem cá!". "Sua mãe não quer esse livro". "Sua mãe já tem livro demais" "Guilherme! Vou te levar pra sua mãe" "Deixa o livro aí, não é pra mexer".

O pequeno ia e voltava trazendo livros pra família toda.

Uns 20 minutos depois aparece a mãe do menino carregando livros e puxando um carrinho de bebe. Deve ser a nana - pensei. Era mesmo: Narúbia (10 meses) vim à saber, depois de rápido diálogo. O Guilherme escolhia livros até pra essa irmãzinha. Não dá vontade de levar pra casa esse menino?

(Publicado originalmente no Facebook em 09/05/2015)

O MENINO GENTIL

Dentro do trem o vendedor passa anunciando seu produto: - Olha a pipoca, doce ou salgada é 1 real.

Um homem faz sinal, paga por uma e pede ao vendedor para que entregue a uma criança sentada ao seu lado.

MENINO: (com uns quatro ou cinco aninhos) diz ao vendedor: - Obrigado! E mostra sorridente para a mãe a pipoca que acabou de ganhar.

VENDEDOR: - Agradece ao moço, foi ele que deu.

MENINO: - Obrigado! - diz para o homem.

HOMEM: - De nada.

Depois o menino começa a comer. Alegre oferece pipoca para todos ao redor (inclusive para mim): - Quer pipoca? Ce que? Quer pipoca?

Minutos depois o menino diz para o homem: - Depois eu guardo um pouquinho pra você dar pro seu filho tá.

O homem não estava com nenhuma criança e aparentemente o menino deduziu que o homem tinha filho, talvez pelo homem ter a mesma idade do pai do menino.

HOMEM: - Não, pode comer.

MENINO: - Ele não come pipoca?

HOMEM: - Não.

MENINO: - Mai ninguém não gosta de pipoca – diz ele abrindo os bracinhos como se estivesse explicando o óbvio de que todas as pessoas gostam de pipoca

MÃE DO MENINO: - Deixa o moço quieto!

HOMEM: - Não. Não é isso. Eles gostam, mas não comem mais porque já são tudo grande. Mas você pode comer tá.

MENINO: - Tá.

E continuou comendo o resto de sua pipoca satisfeito e feliz.

(Publicado originalmente no Facebook em 17/02/2015)

SHOPPING

Dentro do ônibus mãe e filha conversando. A menina, uma loirínha de uns 4 anos.

MAE: Não filha, a gente não vai no shopping.

MENINA: mas eu vou.

MAE: Não, a mãe não vai no shopping hoje.

MENINA: Eu vou.

MAE: Não vai. Você vai sozinha?

MENINA: Eu vou sozinha.

MAE : E o que você vai fazer lá. A mãe não tem mais dinheiro pra ir no shopping.

MENINA: Vou arrumar marido - disse de forma graciosa.

MAE: Mas você é muito novinha. Não arruma marido desse tamanho.

MENINA: Eu espero eles crescer.

(Publicado originalmente no Facebook em 24/12/2014)

RELAMPAGO

Eu andando com pressa pelas "supostas e mega estreitas calçadas do centro" (é vergonhoso chamar aquilo de calçada), pois ameaçava cair uma tempestade.

Nisso vejo o seguinte comentário de uma criança de uns 3 anos para sua mãe, depois de ver um relampago:

MENINO: Oia. O céu está patindo(sic). Nisso ele faz uma carinha de espanto e volta a insistir com a mae

_Tá quebando (sic) lá em cima.

MAE: É, então anda rápido. Vem aqui no meu colo senão ele vai cair na nossa cabeça.

Passei por eles e não tive como não achar graça.