BOBO, MAS INTELIGENTE




Eis que a vida é composta de momentos, ou minutos por minutos. Horas por horas, enfim, um colcha dos retalhos dos dias, dos meses, dos anos, assim como um mosaico. Ao olharmos esse mosaico da nossa vida, evidente que nos depararemos com pedaços agradáveis, pedaços desagradáveis e outros indiferentes, que nossa memória nem guarda, não marca.

Então fico olhando meu mosaico. Imagino um corredor comprido.... ao longo do qual as paredes estão forradas de pequenas fotografias, mostrando pedaços da minha vida. Nesse meu corredor, a grande maioria das fotografias são até saudosistas, nunca melancólicas. Creio que meu álbum seja seletivo; só são guardadas as fotografias que tragam recordações agradáveis, memórias que revivê-las são momentos agradáveis.

Aquelas que poderiam eventualmente me tornar melancólico, triste, essas eu vou descartando, pois, se viver o presente de forma agradável tem seu custo, ter memória agradável, que também é uma forma de viver, não custa nada que não seja nos decidirmos por uma das opções inteiramente ao nosso dispor.

Se posso decidir, livremente, por guardar as fotografias agradáveis, porque estaria eu guardando imagens que me fariam triste... não, não gosto de sofrer por opção. Já bastam os momentos e circunstâncias que tenho que enfrentar e viver situações desagradáveis. Essas eu enfrento, passo por elas e as deixo para traz, sem fotos, se pudesse, sem nenhuma memória.

E não pensem que sou um “bobo alegre”. Não sou. Longe disso. Já passei por momentos absolutamente adversos, dificuldades tantas. Passei por medos, desamores, dessabores, solidão, falta de recursos materiais até ao extremo da fome, contudo, não guardo fotografias desses instantes e sempre os comparo com os momentos da superação de tais situações e me vanglorio desses feitos. Dos momentos de superação, de resiliência, daí sim, tenho muitas e muitas fotografias no mosaico formada nas paredes do corredor da minha vida.

Igualmente não sou um otimista gratuito. Apenas não sou um pessimista insano. Se não gosto, não faço e se tenho que fazer, passo a gostar. Nunca me dei ao direito de fazer somente o que gosto, mas sempre me senti no dever de gostar do que faço. Nunca joguei ao acaso do azar meus maus momentos e sim como consequências de meus atos impensados ou imponderados. Não admito, entretanto, que creditem à sorte o meu sucesso. Este é igualmente consequência das minhas atitudes assertivas.

Sou todo certo? Claro que não. Erro como todos, apenas não erro por querer e nem me conforto nas consequências dos meus erros. Posso até ser um bobo, mas pelo menos razoavelmente inteligente.


 
Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 27/09/2016
Reeditado em 27/09/2016
Código do texto: T5774295
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