O RISCO DE NÃO QUERER IR-SE

Entre montanhas verdejantes e altaneiras surge um povoado. Bacatá. O vale hospitaleiro lhe abre os braços e ele se esparrama entre campos e água cristalinas. E sob a vigilância do Cerro de Monserrate e de Guadalupe o povoado se expande e toma o espaço que lhe é oferecido e transforma-se em uma cidade, que ao sopé das montanhas, aproveita-se da natureza privilegiada para firmar-se e resistir às agruras que lhe são infligidas.

Entre lutas renhidas, guerrilhas violentas, sobrevive soberba e resistente para, agora, dizer ao mundo “em Bogotá o único risco é não querer ir embora”.

Aos visitantes recebe simpática e moderna. Suas “calles” (ruas) e “carreras” (avenidas) ensombreadas e adornadas por árvores frondosas, pela altiva Palma de Cera, que entitulada árvore nacional concede espaços para as outras, que abrem os caminhos. Enfeitadas por jardins coloridos pelas várias flores que rendem homenagem à orquídea, desta feita a flor nacional, estão a pulsar pela visitação de todos aqueles que chegam no “El Dorado”.

Ao longe, Monserrate aguarda a subida por pessoas que do alto observam a cidade iluminada pelo sol. O caminho íngreme, de pedras avermelhadas e emoldurado por flores variadas levam ao topo da montanha. A vista que se descortina em frente aos olhos ávidos dos curiosos mostra a cidade por inteiro, na claridade. A noite, as luzes se acendem formando uma teia dourada brilhante que percorre o vale dando à cidade toda um ar de mistério.

O dourado não pertence somente à noite iluminada. Está no Museu do Ouro, onde a história do povo nativo é contada por meio dos utensílios e ornamentos usados. Todos em ouro. Maciço.

E nas andanças culturais o Museu Botero abre suas portas. Expõe pinturas e esculturas, desenhos e aquarelas. Extraordinárias representações de figuras humanas, flores e natureza morta, que exageram as dimensões, nas telas dispostas para apreciação.

A noite não é só luz e mistério. Também é divertimento nos restaurantes, bares e cassinos que dividem espaço no Boulevard do bairro Rosa. Comidas saborosas, bebidas leves e fortes enchem o ar com aromas diversos, convidando à degustação. E a música alegre e ritmada completa o cenário noturno para o deleite daqueles que ali passeiam.

Entretanto, uma outra maravilha colombiana, a número um, está silenciosa, aguardando a presença dos curiosos para conhece-la. A Catedral do Sal. Escavada no interior de uma montanha de sal, a 180 metros abaixo, o santuário presenteia a todos com sua grandiosidade e religiosidade. Pelos túneis abertos, milhares de pessoas acompanham a via sacra, admirando a estupenda estrutura de um espaço dedicado à religião católica bem no coração da montanha de sal.

O vai e vem cultural chega ao Teatro Colon, um dos melhores do mundo, que já teve em seu palco tenores famosos e outros artistas de renome. A atmosfera requintada envolve a todos, preparando-os para assistir a uma opereta encantadora. Sopranos, contraltos e tenores soltam suas vozes para contar em canto a história de Hansel e Gretel.

Bogotá se revela no centro histórico. Casario antigo, preservados alguns, nem tanto outros, mas toda a região é rica na preservação dos fatos do passado. Os edifícios governamentais são apreciados com olhares de respeito e expressões elogiosas. Os fatos narrados sobre Simão Bolivar, o Libertador, confirmam sua ideais de liberdade para a América espanhola. Casou-se com María Teresa (não podia deixar de mencionar) e foi um verdadeiro herói revolucionário cujas ações militares e políticas foram determinantes na emancipação de vários países latino-americanos. Os bogotanos, orgulhosos de suas memórias, narram os episódios históricos que sobrepujam a qualquer outra ocorrência na vida do país.

Mas, não pode faltar a ‘passadinha’ nas lojinhas de artesanato. E há sempre um ‘badulaque’ para enfeitar um canto da casa, para presentear, para fazer um agrado. Um souvenir para lembrar, quando se volta para casa: “lá estive!”

E a troca de fotos? Ainda dizem que a tecnologia afasta as pessoas. Não sejamos tão radicais. Ela permite compartilhamento. De imagens, de ideias, de solidariedade, de convivência. Imagens que perpetuam os momentos felizes. E ao dividir, os contatos se adensam, se aprofundam, se encaixam em combinações de pensamento, gosto, preferências e desejos.

E na alegria de ter conhecido a cidade, sua história, sua cultura, seu povo, os bogotanos, a despedida chega um pouco saudosa, mas certa de que foi usufruído ao máximo o que oferecia a Cidade. Bogotá.

Tereza Freire
Enviado por Tereza Freire em 25/09/2016
Reeditado em 04/10/2016
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