Ah, com tecido...
Em 71, pronto para chegar ao cinquentenário, papai aposentou-se, com 35 anos de fábrica. Seus últimos anos na Companhia de Tecidos Pitanguiense, a CTP, foram noturnos, como encarregado da terceira turma da tecelagem. Das 10 da noite às 6 da manhã, com folgas fixas no domingo.
Sua hora mais feliz, a lembrança nô-lo diz, era chegar do trabalho e botar de pé a macacada. Enquanto passava o café no coador, rádio ligado na Nacional - onde o programa mais constante era a exortação de Eurípedes Cardoso de Menezes - comprazia-se em contar algum causo da noite que acabara de acabar.
Declinava nome por nome, do Tiofo ao Diolino, do Osvaldo da Rute ao Jair do Zé Jacinto, dos Alemãezinhos ao Remun da Bia, e assim o cordão se esticava que nem acabava. Falava em como quentavam as marmitas numa chapa quente e, se se queixava pra gente, era da falta que sentia do sono da noite, sobretudo depois da bóia. Esse, frisava, era insubstituível. Só mesmo a necessidade daquele adicional de salário é que o prendia àquelas horas tortas e mortas.
E não sei bem se por ironia, ou um por tanto de cortesia, era tratado pela rapaziada como o Chefão. Se duro na disciplina, chegava a ser Brando no aconselhamento e nas orientações aos comandados, que se contavam às dezenas.
Uns tantos meses decorridos de sua partida para as paragens algodoadas em forma e cor, em constante mutação, consola ouvir testemunhos espontâneos de seus colegas de trabalho, dizendo, em síntese que foi pra eles também um pai.
O cisterneiro Walder, com emoção e precisão de memória, relata que numa oportunidade em que se acidentou com um golpe de picareta, enquanto furava nossa cisterna, gozou de repouso remunerado e até da atenção nos curativos diários que Sô Luiz lhe fazia. E ainda, piscando seu olho azul pra mim, pergunta se não foi bom ter tido um pai assim...?