Caminhando
Vai para onde, amigo? Segue estrada?
Longo é o caminho. A gente não sabe onde começa, imagine onde termina. Cachaceiros conhecidos, e reunidos. Um bar antigo, mas limpo e bem tratado. Raridade? Não é não! Eles existem, e como! Reúnem velhos amigos, quando não são, acabam feitos.
— Ela é linda. Sozinha por quê?
— Vai saber! A vida é tortuosa, amigo.
— Mas não má, concorda?
— Na essência não. Mas muitas vezes é má e dolorosa.
— É poeta, amigo?
— Não, sou não. Por que a pergunta?
— Seu jeito. Pensativo, meditador. Encontro poucos.
— Também não sou assim. Vejo o que se passa, mais nada.
— Agrada?
— Quase sempre, não.
Interior, cidade tranquila. A amada, ninguém sabe a causa, entrou no rio. Aparentemente calmo, mas rios são traiçoeiros. O mar é honesto, avisa que pode fazer uma das piores, arrisca-se quem quiser. Interessante. Pacífico. Ora, de pacífico este oceano só tem o nome. Mesmo os astronautas que pela primeira vez desceram na Lua, na hora do retorno não se cansavam de perguntar, via rádio, quais eram as condições do nosso grande oceano.
Entrou no rio, lavou-se e jogou água nos cabelos. Lembrava o gesto do Jordão, o batismo, só que estava sozinha. Sozinha? Talvez não! Mistérios. Dizem, e tudo indica ser verdade material, que o homem nasce sozinho, vive sozinho e morre sozinho, por mais pessoas queridas que o cerquem. Verdade? Não sei não.
“Ela é linda!” “Quem é linda, amigo? Está falando de uma mulher ou da Vida?”
Descalço, seguiu caminho.
Os velhos, mas comportados cachaceiros, que continuavam a conversa e apreciavam o que acontecia, jamais irão saber onde este caminho termina. Se é que termina... E tudo isso, na verdade, não importa!