MONÓLOGO DE UM COXA (mini crônica)
Um primo meu, certa vez me disse:
— Você é um imbecil que passou sua vida inteira, escrevendo sobre, flores, borboletas, céu, terra, árvores, cores, pessoas e passarinhos, não consegue entender que vocês são todos uns idiotas que ficam escrevendo sobre essas merdas todas e apoiando esse governo cretino do PT.
Vocês só gostam de mordomias e essa tal de bolsa esmola é uma aberração, pois só serve para piorar a quantidade desses vagabundos que não fazem nada de útil na vida.
Vivem explorando quem trabalha de verdade e impedem o país de crescer, só sabem fazer filhos e mais filhos, para terem direito ao programa bolsa esmola, essa merda que esse governo criou.
Observei o coxinha falando, esbravejando e espumando sem parar e notei que ele o fazia, orientando um dos seus empregados, sujo de óleo, debaixo duma máquina que estava lubrificando.
O rapaz mal se aguentava de pé, era seu burro de carga preferido, pois trabalhava de sol a sol, sem reclamar.
O coxinha continuava com seu alarido e o rapaz nada dizia, apenas continuava seu trabalho.
— Por que você fica só escrevendo esse monte de lixo que escreve todo dia, você acha certo isso?
Você acha que poderá mudar o mundo com essa sua mania de olhar passarinhos?
Você jamais deixará de ser um imbecil, isso eu posso afirmar, a vida não se resume aos passarinhos, meu caro.
Foi aí que descobri que lhe ouvindo perdia meu tempo, tentei encontrar uma resposta aos seus argumentos e vi que realmente não tinha. Nada que eu dissesse o interessaria, toda argumentação seria vã.
Até hoje estou tentando descobrir a alma dos tratores, carregadeiras e caminhões, juro que não as encontrei.
Querer que o rapaz que estava debaixo da máquina corrigindo um vazamento falar alguma coisa era querer demais.
Então assobiando Vandré (para não dizer que não falei das flores), voltei a passarinhar!