Domingos Montagner

          1. Não sou de ver novelas. Mas não condeno aqueles que fazem qualquer coisa para não perder a sua novelinha preferida. 
          2. Porque sou do nordeste - nasci lá no Ceará -, arranjei um tempinho para acompanhar alguns lances da novela "Velho Chico". Me rendi ao seu enredo e aos seus atores, todos impecáveis. 
          3. Uma palavrinha sobre o São Francisco.       Acostumei-me a amar (eu disse amar) esse rio, desde minha primeira visita a Petrolina, ribeirinha do Velho Chico, há quarenta e tantos anos. Visita que se repetiu, anos a fio.
          4. São cúmplices desta minha paixão pelo São Francisco os meus compadres Recy Coelho Mororó e Míuvia Macedo Coelho,  sua mulher, são-franciscanos, desde meninos. 
     Na mansão desse casal amigo eu me hospedava como Ivone, minha mulher, e meus dois filhos, Paulo Fernando e Adriano, quando pintava na simpática Petrolina, carinhosamente chamada de a Califórnia do Sertão. 

          5. Na companhia de Recy e Míuvia, Ivone e eu comemos, pela primeira vez, o surubim, o peixe mais saboroso do Velho Chico; e dos dois ouvi as primeiras histórias sobre as carrancas que enfeitam a proa das embarcações que singram o grande rio, da sua nascente, na serra da Canastra, em Minas Gerais, à sua foz, na cidade alagoana de Piaçabuçu.
          6. Diria que também por causa desse meu apego ao São Francisco eu decidi acompanhar, na medida do possível, a novela "Velho Chico".
          7. Para essa novela, mui bem bolada pelo escritor Benedito Rui Barbosa, a Globo pôs em ação um formidável elenco, dele fazendo parte, como um dos protagonistas, o ator Domingos Montagner.
          8. Quis o destino que o ator Montagner, num mergulho infeliz, morresse afogado no São Francisco. Desaparecia o ator que, na novela, chamava-se Santo. Uma perda irreparável!
          9. A partir do farto noticiário sobre sua morte, soube que Domingos Montagner fora, também, um excelente palhaço, profissão da qual ele se orgulhava e se dizia felicíssimo ao exercê-la.
          10. Sempre admirei a arte circense. Aplaudi belos palhaços nos circos Nerino,  Garcia e no Orlando Orfei, todos desaparecidos. Qui saudade!
          11. Tinha que encontrar uma maneira de homenagear o Montagner, não o ator de televisão, mas o palhaço.
          12. Fui buscar no padre Antônio Tomás (1868-1941), o primeiro Príncipe dos Poetas Cearenses, o seu soneto contando a história de um palhaço.
                              O PALHAÇO - Ontem, viu-se-lhe em casa a esposa morta/ E a filhinha mais nova, tão doente!/ Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,/ Que a plateia o reclama impaciente. == Ao palco, em breve surge...Pouco importa/ O seu pesar àquela estranha gente.../ E ao som das ovações que os ares corta,/ Trejeita, canta e ri, nervosamente.  ==  Aos aplausos da turba, ele trabalha/ Para encontrar no manto em que se embuça/ A cruciante angustia que o retalha. == No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça/ E enquanto o lábio trêmulo gargalha/ Dentro do peito o coração soluça.
          14. Como palhaço, Domingos Montagner deve ter cumprido sua mais nobre missão neste planeta.
     Nos picadeiros ou nos palcos, o "distinto público", de todas as idades, viveu, com certeza, momentos de felicidade no sorriso do palhaço Montagner. 
Os picadeiros estão de luto...

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 24/09/2016
Reeditado em 13/01/2017
Código do texto: T5771451
Classificação de conteúdo: seguro