DIA DOS NAMORADOS
Ivanildo Marcolino dos Santos Sousa era um sujeito magro, estatura mediana, moreno nem claro nem escuro. Nariz adunco num rosto quadrado causava uma certa estranheza nas pessoas que o viam pela primeira vez, mas depois se acostumavam e nem mais percebiam aquilo que lhes parecera estranho.
A simpatia de Ivanildo Marcolino disfarçava qualquer possível imperfeição na aparência e atraía muito mais do que repelia.
Para muitos o que prejudicava Ivanildo Marcolino era a timidez. Uma timidez terrível, monstruosa que lhe abafava a inteligência que por vezes beirava a genialidade. Aliás, nosso amigo era mais inseguro do que tímido, mesmo estando absolutamente certo, sempre desconfiava de sua certeza e numa contestação das mais simples, deixava-se vencer e internalizava a sua frustração, o que o tornava ainda mais circunspecto e com um ar melancólico.
A única namorada em seus 34 anos de vida, havia rompido o namoro de 4 anos no dia dos namorados quando deixou Ivanildo Marcolino com um ramo de rosas vermelhas e amarelas numa das mãos e uma caixa de bombons importados que lhe havia custado uma pequena fortuna, na outra. Da soleira da porta não conseguiu passar e a chuva fina, quase uma garoa, a lhe molhar os cabelos pretos cheios . Livana, e não se sabe por que razão, não lhe permitiu entrar n acasa e dali mesmo da porta para fora, havia terminado o enlace amoroso.
Não ficou claro se lágrimas lhe desciam dos olhos ou se a própria chuva que lhe ensopava por completo os cabelos , o rosto e os ombros após alguns minutos de total imobilidade ante uma porta já fechada.
Nenhuma palavra havia sido proferida por Ivanildo Marcolino, mais por resignação do que timidez na esperança de que Livana reconsiderasse no dia seguinte o rompimento. Contudo, já se havia passado quase um mês e Ivanildo continuava esperançoso do arrependimento de sua amada e pronto para ir reencontrá-la.
Ao final do sexto mês, Ivanildo houve por bem, comer os bombons importados.