E lá estava eu

E lá estava eu, na festa, comendo um salgadinho quente por fora e frio por dentro, bebendo um, dois, três, e quem sabe, ou lembra, um quarto, copo de vodka. De pé, no meio da sala, junto com outros 3 amigos, conversando sobre sei lá o que, possivelmente sobre a bunda de alguma mulher.

Vestindo uma calça marrom claro, e uma camisa branca, com sapatos negros, e uma meia, preta também.

Lá estava eu, pensando no nada, somente vendo a conversa passar de uma orelha para a outra, sentindo o frio daquela maldita sala cheia de decoração, com tapetes, quadros, e lustres iluminando o espaço, que deveria ter uma poltrona ao menos.

Lá estava eu, vendo pessoas que nem conhecia, cumprimentando velhos, e novos amigos. Ouvindo o tocar da campainha da porta, e a velha música que todos já conhecíamos. Pensando, agora, no dia de amanhã, e depois de amanhã e o seu dia seguinte. Mas algo a mais entrou quando a porta foi aberta, para receber mais um novo amigo,um vento que não era frio ou quente. Nem sei se era real ou imaginário, mas senti que o tal vento estava na mesma casa que eu, senti que ele procurava, procurava algo, me procurava.

Lá estava eu, assustado com o vento caçador, que agora se aproximava de mim, sentia a sua respiração, sentia sua vida pulsar em minhas costas, sentia uma força, que me empurrava o corpo, e tentava entrar. Não deixei, corri, para a cozinha, mas ele logo veio atrás, e como se já soubesse, se deslocou com rapidez para a porta que dividia a cozinha do corredor, corri então para fora, mas ele seguiu meu corpo, como se precisasse dele.

Pronto, foi num tropeço que fui vencido, e de costa pro chão, fiquei cara a cara com o vento, que agora tomava uma forma, uma forma semelhante a alguém que já virá antes, já o vira no espelho. E como se fosse eu, uma piscina, se jogou para dentro de minha imensidão, entrando forte e rasgando o meu peito, entrou gelado e se aqueceu em meu interior.

Deitado no jardim do amigo, conheci finalmente, o vento, e sua intenção. Marcou como se fosse um ponto final na linha da minha vida, de minha antiga vida, para uma outra poder continuar.

O vento me fez perceber aquilo que é comum a todos, mas que poucos perceberam na historia da humanidade. O vento me fez perceber uma única coisa, uma coisa maior que todo o conhecimento do mundo junto. O vento me fez perceber a coisa, aquilo que todos procuram, poucos acham, quase nenhum entende.

O vento me fez perceber aquilo que eu já deveria saber.

Saber que lá estava eu.

Nallini
Enviado por Nallini em 23/07/2007
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