Difícil sair de cena, mas, necessário!
Muitas vezes é difícil abdicar de um relacionamento, decidir a hora de dizer para nós mesmos que simplesmente acabou, que não tem volta, que aquela pessoa que um dia foi a sua escolha, hoje já não é nem a sua opção.
Decidir a hora em que seu interior precisa se esvaziar de tudo que é ligado a quem um dia amou é uma hora de muita maturidade e entendimento que a sua essência precisa ser restaurada, e isso vai ter que fazer sozinho.
Chega um momento em que é necessário se libertar do que já não é mais seu, entender que não tem novas tentativas, novas chances, novas reconciliações, novos perdões, que não dá mais para tentar de novo, porque o veneno da angustia de querer salvar algo que não tem salvação também sufoca.
Por mais que alimentemos a esperança que a coisa pode um dia voltar a ser como antes, nem sempre a outra parte está vendo da mesma forma e casal é par e não pode ser ímpar nunca. Temos que entender que não somos nenhum ditador que irá obrigar que os sentimentos do outro sejam iguais aos nossos.
Muitas vezes estamos como naqueles desenhos animados em pequenos barcos com um furo jorrando água e ao invés de pular e tentar se salvar, perdemos nosso precioso tempo tentando esgotar a água, e no final o único esgotado é você mesmo. Não adianta criar na sua cabeça que o outro gosta e finge que não gosta, que ama mais é seco, que te deseja mas está fazendo jogo, no amor isso não existe, quem ama ... ama, quem tem tesão...tem tesão, quem quer... quer ficar perto. Temos que aprender a entender as entrelinhas do cotidiano, quem se importa não finge não se importar, quando não se importa, não se importa mesmo, pode até lhe fazer um favor ou outro, por caridade, como faria para qualquer outra pessoa, ou por culpa, mas não por realmente ver uma necessidade de estar perto de você para o que precisar.
Não adianta achar que com o tempo as coisas vão melhorar... elas não vão. Amor se conquista, se ganha, se usa, mas, se esgota e se perde também.
Idealizar um romance de filmes é o que todos queremos, mas muitas vezes nos auto-flagelamos fingindo que a falta de romance é o que temos e é o que sobrou para nós, no entanto, mesmo cada pessoa se expressando da sua maneira, não podemos aceitar receber o que não merecemos. Entenda, não que toda pessoa seja docemente açucarada para o amor, isso seria um sonho, ou um pesadelo onde todos nós teríamos olho em formato de coração, mas ... amor é amor. Não precisa ter um coração de pétalas de rosas toda semana na casa, mas, abrir os olhos e ver que quem está ao seu lado é quem quer estar ali, de coração aberto, desejando a sua presença e o seu acordar, não tem preço!
Infelizmente, as vezes fingimos não entender que nosso parceiro já se foi há muito tempo. Já te largou estando ao seu lado, já não há sorrisos espontâneos, nem olhares cruzados, que a despedida já começou faz tempo e só você não percebeu.
As mãos na cozinha não se encostam, o passar e dar uma encostada básica já se torna um pulo pra trás e deitar e sentir só as batidas daquele coração, já não está no script há muito tempo e só você que não percebeu e quando acordar e ver que aquela pessoa já não estava ali há muito tempo é que vai perceber o quanto será bom e necessário respirar e se libertar. Tornar-se vazio é difícil, quando se tem uma alma cheia de amor para dar, mas, até os rios precisam se esvaziar de vez em quando para que a vida se renove.
Quando uma relação não dá certo, não quer dizer que ela foi ruim, ela só não deu certo, sofrer calado e se entregar por inteiro para quem não está lhe entregando nem 10% do que você busca é simplesmente o aceitar a derrota da sua relação consigo mesmo.
Recomeçar também faz parte. Não é preciso temer o amor.É preciso sim, selecionar, ser atento aos sinais, entender que fez sua parte, mas que está na hora de pegar sua mala e partir pra outra.
Não se apegue ao material, a reconstrução, tudo pode conquistar de novo e muitas vezes, quando nossa felicidade e liberdade de sermos plenos está em jogo... percebe-se que o que achávamos que era tudo, não era nada.
Tem muita gente boa sozinha, querendo amar, querendo compartilhar e quem sabe ela não está bem pertinho e nós com a visão embaçada do egoísmo de não aceitar um fim, estamos nos privando de viver isso e dando oportunidade para que o destino faça sua trama e vocês nunca se quer se esbarrem?
A hora de sair de Cena, muitas vezes é necessária.
Trilhar novos caminhos não significa começar tudo de novo, afinal, nossa mala já está cheia de experiências, de vida, de aprendizados.
Abra-se para amar de novo, saia de cena com classe, chore rios de lágrimas sozinho ou com seus amigos, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
Izabelle Valladares
Izabelle Valladares, nascida em Niterói, neta do Jornalista baiano Antônio Andrade, ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo de 1968, herdou em laços sanguíneos a paixão pelo jornalismo e pela escrita.
Autora de mais de 20 livros solos, presente em mais de 100 obras de co-autoria, ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais.Destaca-se no gênero conto, e ministra oficinas em escolas e centros culturais internacionais sobre o Tema.
É apresentadora do Programa de roteiros turísticos "Vamos que vamos por aí!", considera-se uma cidadã do mundo.