TIMIDEZ

A partir do momento em que entrei na escola em que estou estagiando, a minha memória passou a ganhar vida começando pelo aroma peculiar que existe na manhãzinha. Era o mesmo de quando eu caminhava sozinha, da minha casa até a escola que estudei a maior parte do tempo.

Quando entrei na sala de aula, as sensações da memória tornavam-se ainda mais intensas, cheiro de sala encerada, de chão gelado e escuro misturado com a poeira de giz, exatamente como era a sala em que estudei por muito tempo. Aquele perfume tornou viva a sensação de timidez e solidão que eu sempre tinha ao entrar na sala de aula, e a estranha mania de me isolar de todos. Carreguei e ainda carrego em meu estágio a timidez. Durante o transcorrer da aula eu sempre, em silêncio, observava os movimentos, as discussões e mesmo quando sentia vontade de falar, não falava, pois a timidez superava qualquer desejo dentro daquela sala.

Costumava sempre prestar atenção no som do ventilador, o ruído que faziam as cortinas quando o vento as tocavam, a voz dos meus colegas e professores e o arrastar e deslizar de carteiras compondo uma melodia exatamente igual a que escuto dentro da sala de aula do meu estágio. Um pouco mais tarde começava também um barulho longe de construção.

Durante o intervalo eu tinha um costume de me sentar em um banquinho próximo a sala dos professores, um lugar mais isolado, pois era onde me sentia confortável, e ali próximo um delicioso aroma de café, o mesmo que sinto hoje nos intervalos do estágio e inclusive posso degustar.

Terminando as aulas, o aroma de almoço começa emergir e lentamente começo a guardar o material aguardando que todos saim primeiro e vou caminhando lentamente e sozinha, olhando para baixo e acompanhando meus passos nesta lembrança tão viva e acanhada e nesta memória tão presente.

Amélia Queiroz
Enviado por Amélia Queiroz em 21/09/2016
Reeditado em 21/09/2016
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