Saudade

"Sau.da.de sf, Lembrança melancólica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa (s) ou coisa (s) distante (s) ou extinta (s) (mini-dicionario Aurelio, 6ª edição, fevereiro de 2004)"

Sentiu? Pegou?

Então...

O mundo acabou se esquecendo de mim, e eu nem sei mais o que é sentir depois de todos esses anos. Talvez sejamos outros de um todo, sendo um mesmo coração.

Saudade...

Das coisas que eu pensei e nunca falei. Das coisas que eu fiz e nunca mostrei pra ninguém.

[tentada ser] Definida acima, essa palavra causa ainda muito problema pra quem a sente/tem.

Eu não sei nem definir se saudade é algo que se tem ou algo que se sente.

E pra quem não sabe, é uma palavra muito complicada de se definir, mesmo olhando num dicionário.

Provém da época do Brasil colônia, onde os portugueses que aqui ficavam sentiam falta (a.k.a saudade) da sua terra e de mais quem lá que fosse.

Por incrível que pareça, é uma palavra complexa demais pra outros povos (que são tão bons em outras coisas) entenderem [e sentirem] como nós.

Querendo ou não, em nossa [belíssima] lingua portuguesa, conseguimos definir com [pouquíssima] precisão o significado disso tudo. Haja colchetes.

Acredito que eu nem precise falar nada. Quem já sentiu/teve SAUDADE sabe.

Independente do que falem os livros, dicionários, poetas, estudiosos e letrados...

Mas nem sempre o que é correto é o certo.

[até porque:]

cor.re.to adj., 1. Emendado, corrigido; sem erros. 2. Honrado, honesto, íntegro.;

certo adj., 1. Em que não há erro; exato. 2. Exato nos cálculos, no funcionamento; preciso. 3. Infalível (1) 4. Previamente fixado ou ajustado. 5. Persuadido, convencido. 6. Certeiro (1). pronome indef. 7. Não determinado; um, algum, qualquer: certa vez. sm. 8. Aquele ou aquilo que é certo. sm. 9. V. com certeza (1). (Mini-dicionário Aurelio, 6ª edição, fevereiro de 2004)

Saudade é a falta; é o olhar disfarçado de escanteio; saudade é o vazio que fica; saudade é a nostalgia; saudade é o imprescindivel que está distante; é o ultimo gole; é o ultimo beijo.

Saudade é a vida que deixamos para trás. É o ultimo passo na escadaria do onibus e a porta se fechando.

É o ultimo passo na escadaria da igreja e a porta se fechando.

Saudade é o zero. E acho que hoje em dia, três de mim seria tipo zero você.

Saudade é a moça bonita no trem e o rapaz bonito da foto.

Saudade é o ultimo acorde.

Saudade é a fotografia esquecida no canto da estante; saudade é o fundo do baú. Saudade é o que não pode ser preenchido. Saudade são os joelhos ralados e os domingos de sol.

Saudade é o fruto daquilo de bom que plantamos.

Saudade é a abertura do cadeado.

Saudade é a molecada da rua.

Saudade é o carro parando o jogo. Saudade é a bola perdida.

Saudade é o uniforme branco e a calça de 'tactel' azul surrada.

Saudade é o "sai que é sua, Taffarel!"

Saudade é Romario e Bebeto (ou então Ronaldo e Rivaldo, que seja); saudade é a adolescência emergente; saudade é o abraço ainda no aeroporto; saudade é a química, é a mímica; é a tua infância refletida nos olhos dos seus filhos; é gentileza de um estranho; é o arrependimento de ter feito e talvez de não ter feito.

É estar jogado no sofá. É começar a ver o filme e não terminar.

Saudade é o primeiro trago.

[Trago de volta comigo enquanto você leva de volta consigo]

Saudade é o cigarro quando apaga.

Saudade é o primeiro dia de aula na primeira serie e a ultima aula do ensino medio.

Saudade é ganhar medalha de campeão do interclasse e depois do interescolar. (A glória máxima que um jogador pode chegar)

Saudade é ganhar presente em doze de outubro; saudade é por fé que o papai noel (velhinho rico que mora no Polo Norte que gosta muito das crianças) vai entrar na sua casa em vinte e cinco dezembro e te entregar um pacote embrulhado caso você tenha sido bonzinho durante o ano. (mesmo que não tenha sido)

Saudade é a inocência. Saudade é não saber o que está acontecendo e nem se preocupar com os dias da semana. Saudade são os mascotes da parmalat; saudade é a boca seca num dia de sol; saudade é quebrar as vidrarias que sobravam; saudade é o vandalismo inocente; saudade são as palavras que voam; os primeiros cumprimentos e as primeiras revelações; saudade são as fotografias reveladas e a família reunida. Saudade é o bom dia de domingo e um café da manhã nutritivo. Saudade é a primeira conquista, é o primeiro fracasso e também é o primeiro dia de uma vida perfeita.

Saudade é escutar Marco Brasil com o meu pai.

Saudade é saudosismo. Talvez eu tenha me acostumado com um monte de novidade todos os dias e aí quando o tedio chegou, me enlouqueceu. Saudade é estar junto.

Saudade é o despertador às 6:30h. Saudade é o barulho de peido ou então do ronco que o avô fazia com a boca; a macarronada da avó no domingo. Tudo era bem melhor do que parece.

Saudade é ter motivos pra acreditar.

Saudade é descer na rua dos trilhos porque a grana tava curta pra descer na capital do Estado do Mato Grosso; andar de metrô e subir a escadaria correndo, pra contornar logo o cemitério do Araçá pra ver o Coringão jogar. Saudade é passar as noites acordado conversando com alguém que não existe no meu mundo.

Saudade é o omisso; saudade é o pouco que me resta das lembranças da primeira metade da primeira década dos anos 2000; discar o telefone com final 4232 e falar "vamos brincar?". Saudade é a banda da praça; saudade é o desfile de boi; saudade é a praia do final de ano. Saudade é ver a responsabilidade chegando e a cara nunca mais ficar lisa.

Saudade é o olhar de reprovação dos pais depois de alguma cagada da infância ou da adolescência. (Ah, se ainda hoje o olhar fosse só deles...)

Saudade é a história e a estória.

Saudade é a história mais velha do mundo.

Saudade, a invariável - que poderia bem figurar como título.

Ah, saudade: Quem disse que um dia eu iria ter saudade de você!

E é aí que eu lhes pergunto:

Saudade pra sempre ou pra sempre saudade?