Morre Santo no Velho Chico
As águas do mar não correm, balançam. E quando balançam, que o balanço não seja muito forte, contenha-se nos limites marcados pelas suas ondas. Também se corressem, aonde iria o mar? Há tremores sísmicos, nas suas entranhas, que provocam correrias: Ele avança seu espaço, expulsando barcos, inundando praias, derrubando casas, coqueiros, assombrando bichos e matando gente, espantando como o Vesúvio com suas larvas quentes. Há filmes sobre o mar fora dos limites, espichando ondas gigantes, levando espuma aos distantes pés da montanha. Moro na frente do mar e, antes de dormir, vigilante, espio pela janela se ele está no seu lugar, sereno, majestoso. Já vi gente se salvar do seu furor ou morrer na sua calma. Mesmo sendo águas salgadas, aos pescadores que se foram às profundezas , o poeta Dorival Caymmi canta: "É doce morrer no mar"...
As águas do rio correm sem parar, elas têm aonde ir, apressam-se, unindo forças, motivando populares comparações: Governo, outra coisa mais e rio cheio quem enfrenta? Nessas águas permanentemente inquietas, o filósofo Heráclito pescou a pérola rara de que jamais se lavam pés num rio com as mesmas águas; a correnteza os enxágua sempre com novas águas.
Foi à espera de cheias do Rio Paraíba, protegido por adultos, em Pilar, quando nasceu meu medo dos redemoinhos. A cheia se anunciava desde Salgado, Guarita, Itabaiana; vinha das serras de Monteiro, arrastando bois, cavalos, árvores, bodes, tudo que estivesse à margem, ao alcance do seu bote. Estou vivo, por isso acredito que o menino Domingos Montagner nunca levou surra de cinturão de couro, o que sofri do meu pai na pele molhada, quando dei frecheiro naquelas águas velozes e turvas. Menos comprido, menos riscoso, o Paraíba se torna mais perigoso quando se junta ao São Francisco na verdade que os iguala: Todos os rios correm para o mar...