Diário de Sonhos - #104: Violência Policial
Sonhei que minha vó ainda era viva e fui a visitar na Cohab II. No caminho vi um cara andando de bicicleta, quase trinta anos, camiseta branca, boné branco, shorts e um puta colar de dólar no pescoço. Um carro de polícia se aproxima e manda ele parar. Dois policiais descem da viatura e começam a espancar o homem, jogam-no ao chão e começam a chutar. Os passantes olham, mas ninguém tem coragem de impedir. Eles levam a camisa e o boné do rapaz, passam por cima da bicicleta. O rapaz sai correndo, ensanguentado, pula por cima de um muro e some.
Estou na rua de novo, já é tarde. Numa lombada a cena se repete. Novamente o mesmo rapaz é espancado pelos mesmos policiais que roubam seu boné, sua camisa e destroem sua bicicleta. O rapaz sai correndo, ensanguentado, e pula por cima de um muro. A mesma cena se repete mais duas vezes no sonho, mas na quarta vez o rapaz enrola o boné dentro da camiseta e joga dentro da casa de alguém. Os policiais perguntam onde está, mas ele diz que não tem mais dinheiro pra comprar. Eles espancam o rapaz e o arrastam pra dentro da viatura. Somem na calada da noite.
Chego na casa de minha vó, ela diz pra mim tirar a roupa suada, tomar um banho e pôr um pijama. Conto o caso da rapaz pra ela, mas ela diz pra mim não mexer com essas coisas pois é perigoso e que com polícia não se brinca. Eu respondo que não estou brincando, que não sou contra a polícia, sou a favor, gosto de policiais na rua, mas que não admito esse tipo de abuso e injustiça. Minha vó diz pra mim ir tomar banho. Estou fedendo.
No dia seguinte vou até a delegacia decidido a encarar os policiais. Repasso todo o discurso na minha cabeça. Penso nos PM que já fiz amizade, penso em como fico babando para a grande habilidade dos policiais da ROCAM, que conseguem até subir uma escada montados na moto. Mas também penso em como odeio injustiça, em como odeio os torturadores da ditadura, em como odeio o modo como a PM lida com protestos (vide protestos em São Paulo contra aumento da tarifa, protestos contra e a favor do impeachment, protestos na USP e etc). Estou disposto a ir preso se for necessário.
No caminho da delegacia dois homens numa moto me abordam. É um assalto. Mandam eu dar tudo e antes de partir um deles me dá uma coronhada na nuca. Este rapaz usa camisa branca, boné, shorts e um puta colarzão de dólar pendurado no pescoço. Tenho raiva de mim mesmo e choro na rua. Os passantes vêm até mim e dizem que vai ficar tudo bem.
São Paulo, vinte de setembro de dois mil e dezesseis.