Assim ou ...nem tanto 64
Liberdade
Não quis andar pelo caminho já andado. Deu-me Deus as asas e tudo se aprende nesta vida, pensei. No começo, a cada passo tropecei nelas, como ave inapta e tonta, mas determinado a não ir por onde já tantos haviam deixado pele e sangue, voei. O meu voar a cada dia se redimensionava não tanto pelo que quisesse fazer mas pelo que, de todo, não queria experimentar. Há tropismos que nos levam para a beira do abismo, esse lugar intenso onde se cai e se morre ou onde se inicia o voo para, da altura, se deixar, pequenina, a cidade perder importância. Do alto, as casas, os homens, as certezas, leis, regras e opiniões perdem validade. É como sair de uma prisão onde tudo nos amarra à submissão para a distância onde nada de irreversível existe e, plenos de liberdade, passamos a ter direito de escolher. Escolho tudo o que quero e posso. Escolho ficar contigo. De toda a beleza que sei só a tua me importa e só em ti achei pouso seguro, lugar de acolhimento no teu coração, molde para, como um estojo, me guardar no teu corpo. E, depois, ainda acrescento: escolho-te porque me aceitaste assim, livre, despenteado, fora de moda. Escolho-te por te amar e por saber que podes ajudar ao meu voo trôpego voando comigo por onde quer que vá. Todos os homens livres são pássaros.