MATO GROSSO
MATO GROSSO
Em 1982 fui trabalhar em Mato Grosso, gerenciando obras hidrelétricas. Uma experiência rica e incrível. Eu nem imaginava como seria o Brasil das regiões amazônicas. Fui morar em Cuiabá, a capital mais quente de nosso país. Às segundas feiras, ia até o aeroporto, embarcava em uma minúscula aeronave (um Cesnna 106 monomotor com quatro lugares) e voávamos para a região norte do estado. Eu e o piloto. Eram três ou quatro horas sobrevoando a mata amazônica, algumas áreas de fazendas já desmatadas, pequenos povoados, estradas de terra. Os pilotos diziam que voavam no sistema VOR – Vôo Olhando a Rodovia. O avião não tinha piloto automático, radar ou outro dispositivo de segurança. Dependia exclusivamente da experiência do piloto. O nosso piloto, um senhor em vias de se aposentar, com mais de 30 anos de Mato Grosso, sabia tudo. O nome das fazendas, rios, estradas, garimpos, onde pousar nas emergências (que não eram poucas), estórias de acidentes aéreos, etc., eram os temas das conversas que rolavam na cabine do avião. Se o tempo fechava ou à frente se localizavam nuvens tipo “cumulus nimbus”, que apresentam grave perigo às pequenas aeronaves, a solução era dar uma grande volta e, se isso não era possível, arrumar um local, fazer um pouso fora de programação e aguardar a tempestade passar. A pista de pouso de uma das obras era um trecho da estrada alargado. Fazia-se um sobrevôo na região do canteiro de obras e alguém ia me buscar onde o avião havia aterrisado. Algumas ocasiões foram inesquecíveis.
Em um dia de violenta tempestade pousamos onde hoje fica a cidade de Lucas do Rio Verde, na época um pequeno grupo de casas e fazendas. Passamos o dia inteiro aguardando a volta do tempo bom e almoçamos no único armazém do local.
Outra ocasião enfrentamos grave turbulência na vertical do aeroporto de Cuiabá que parecia estar desmanchando o avião. Tanto que a torre de comando nos deu prioridade e aterrisamos sob uma tempestade violenta.
Em uma segunda feira cedo, saímos de Cuiabá com o avião revisado, todo novo. Depois de duas horas de vôo, o piloto notou que a pressão de óleo estava caindo rapidamente. Isso indicava que o motor entraria em colapso em breve. Estávamos sobre a Serra da Caixa Quebrada, região sem área para pousos de emergência. Iniciamos o retorno para Cuiabá, e a pressão de óleo caindo. Depois de hora e meia, ajudados por um vento de cauda, pedimos prioridade total à Torre de Controle de Cuiabá. A pressão do óleo já em zero, conseguimos aterrisar. Foi o maior alívio que senti na vida. Cheguei a casa, toca o telefone. Era o piloto avisando que o motor havia fundido assim que ele chegou ao hangar da empresa.
Foi uma época para Indiana Jones nenhum botar de feito.
Paulo Miorim
20/09/2016