Era tudo tão simples...

Era tudo tão simples aqui, o olhar, o jeito que ela fazia o café e servia em seu jogo de xícaras que ganhara em seu aniversário. O jeito com que ela falava entre um gole e outro enquanto eu observava seu brilho nos olhos e sua voz fraca por causa do frio, me afagavam a alma toda essa cerimônia diária.

Era tudo tão simples aqui, o toque de seus dedos quentes. A lareira com a lenha a queimar aos poucos e os estalar das mesma sendo consumidas pelo fogo. O calor suave que ela exalava de suas chamas já cansadas. O calor que sua mão deixava na minha após segurar a minha toda vez que sorria.

Era tudo tão simples aqui, o beijo rápido que ela dava sempre depois de cada sorriso. O som da nevasca lá fora que agredia a porta e as janelas e, fazia com que ela me abraçasse forte.

Era tudo tão simples aqui, o amor singelo e puro que aquecia dois corações adormecidos a beira da vida.

Era tudo tão simples aqui, tão simples quanto o cair do último floco de neve sobre essa terra fria e molhada.

Era...

Era tudo tão simples aqui, a despedida. Ver a casa vazia e morta consumida pelo frio e pela melancolia diária.

Era tudo tão simples aqui, a cama vazia perfeitamente arrumada parecia um túmulo sepultando o amor.

Era tudo tão simples aqui, a lareira morta e incolor decorando aquele cômodo pálido e triste. O sofá já definhado pelo tempo guardava o molde relutante dos amantes.

Era tudo tão simples aqui, a neve começara a cair aprisionando-me nesse lar, nesse mar de lembranças e promessas.

Era tudo tão simples aqui, a solidão acompanha-me como minha companheira fiel a dividir-me uma xícara de café. Peço que feche a porta, e afague meus olhos marejados.

Era tudo tão simples aqui, há vida por todos os lados, mas não há vida aqui dentro nem dentro de mim.

Era tudo tão simples demais...