Um anjo me visitou

O sábado enfim amanheceu. Despertei-me junto com o sol , rubro, em um céu cinza, apagado, pesado.. Abri a janela e deixei que apenas o seu sorriso adentrasse a minha alma. Voei energizada para a cozinha. Preparei meu café. Em seguida fui para a missa. Um compromisso com Deus. Com a saúde espiritual e psíquica. Não tomo rivotril. Prefiro tomar a hóstia sagrada. Me traz paz perene. Terminada a celebração, saí voando novamente, já tinha planos em mente: logo cedo queria passear nos vales, voar e cantar com os pássaros. Colher flores e amoras para geleia. Ao passar pela portaria do prédio, dei de cara com um vizinho especial, literalmente especial. Estava chegando da rua com sua mãe. Trazia em suas mãos delicadas, uma flauta doce, assim como ele, assim como todos os portadores de Síndrome de Down. Na face, de anjo, trazia um sorriso largo, contagiante. Com versei um pouco com ele, pedi que tocasse uma música para mim. Entusiasmado, tentou ali algumas notas desafinadas, que, aos meus ouvidos, soaram como Air on the G string, de J S Bach, minha predileta.. Agradeci-o, parabenizei-o pela canção. Ficou muito feliz, me deu um caloroso abraço e, só então, reparou meu braço engessado. Incontinenti, perguntou-me o que havia acontecido. Incontinenti, tocou-o com extrema delicadeza e compaixão. Seu olhos estavam brilhando como o sol do meio dia. E então começou a orar em voz alta. Suas palavras fluíam como as águas de um rio. Eram sábias, profundas, capazes de tocar as entranhas da alma e remover montanhas de dor. Uma oração pura, espontânea, jamais ouvida, recebida por mim neste longo período de recuperação. Chorei. Choramos, eu, ele e sua mãe. Não tive e não tenho a menor dúvida, estava ali um anjo por Deus enviado para me trazer alegria, esperança, crença na existência de um amor maior, um amor puro, gratuito, verdadeiro.