O Monstro Tarasca ainda Viveria em Barbacena?*¹
 


Tarasca, segundo Silvério Ribeiro, era um monstro lendário que servia como alegoria usada nos festejos de Pentecostes em Tarascon na França.
 
Esta alegoria serviu para ilustrar a política que se desenvolveu em Minas Gerais no Império, no início da República e na região de Barbacena.
Como esta monstruosidade politiqueira teria surgido? Ela ainda assombra Barbacena nos dias pós-modernos?
Uma coisa é certa: a dobradinha política entre Bias e Andradas é forte – vale o trocadilho, Fortes.  Ainda não surgiu ninguém que fizesse a Tarasca municipal tornar-se coisa do passado? Ai de São Jorge da Capadócia se tentar com sua espada trazer mudanças que fira e mate a terrível Tarasca!
Ela é pior que o basilisco bíblico. Muda-se os nomes de partido, entra e sai prefeito   com outros sobrenomes, pensa-se em voto nulo...  Nada adianta ou já  resolveu o problema até hoje. A Tarasca está viva, ativa, camuflada através da dobradura política Bias Fortes e Andradas.
 
Como foi chocado o ovo deste dragão que eclodiu nas Minas oitocentista e se recusa a morrer?
 
Tudo começou nos anos 80 do século 19 e Ribeiro pontua a dualidade política Bias e Andrada:
“Em 1884, com a entrada de Lima Duarte para o Senado seria eleito deputado à Câmara do Império, o seu cunhado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada...”¹
“...em fins de 1880, surgiu na cidade um jovem bacharel que marcou profundamente a vida pública local: Chrispim Jacques Bias Fortes.”¹
 
Eram duas personalidades – duas cabeças - que se enfrentassem ambas se enfraqueceriam. Como contornar a situação?
 
O ovo do dragão foi posto para chocar e surgiria a Tarasca de duas cabeças. Recorramos a Silvério Ribeiro que historia o ocorrido:
“Pimentel, eleito deputado federal, depois de um ano, renuncia ao mandado. A essa vaga aberta na representação local, a Liga da Lavoura e da Indústria chefiada por Carlos Pereira de Sá Fortes lança o nome do jovem advogado barbacenense José Bonifácio de Andrada e Silva, como candidato. Afastado de Bias Fortes e de Henrique Diniz, coordenando mesmo a oposição aos grupos republicanos oficiais, nunca poderia imaginar que o Partido Republicano Mineiro, na Convenção de Juiz de Fora em 1898, pudesse aceitar essa candidatura. Para espanto geral, a habilidade de Chrispim Jacques Bias Fortes surpreendera a todos defendendo a candidatura do jovem José Bonifácio para a cadeira de Mendes Pimentel.
A aliança entre Chrispim Jacques Bias Fortes e José Bonifácio constituiu-se em um eixo político partidário poderosíssimo que dominou Barbacena e região... O velho Chrispim Jacques Bias Fortes encarnaria a expressão partidária estadual, ora como governante do estado, ora como presidente da comissão executiva estadual do PRM, a poderosa Tarasca. José Bonifácio passou a representar a expressão partidária federal, junto ao presidente da República e aos ministérios.”²
 
Simplificando: o monstro que nasceu daquela ação de Chrispim Jacques Bias Fortes possuía duas cabeças: José Bonifácio influenciaria as esferas federais  e os Bias as esferas estaduais – é assim até hoje?
 
Este sistema politiqueiro bem à moda mineira funcionava assim: “a cúpula era a Comissão Executiva do PRM... que elaborava as chapas para deputados federais e estaduais, senadores estaduais e federais, presidente e vice-presidente do Estado. O chefe do governo era o principal responsável pelas decisões – ele que tinha o poder de nomear e demitir, tinha a força necessária para impor-se.”³
 
No nível municipal havia dois partidos sem cunho ideológico que congregava homens de prestígio local. Em Barbacena ainda não é assim até hoje: Os Biistas e Os Bonifacistas? Também havia aqui dois nomes de relevância que também alimentava a monstruosidade da Tarasca: Henrique Dinis e Senna Figueiredo. Mas estes seriam destruídos pelo dragão de duas cabeças: a Tarasca, cabeça Biista e Cabeça Bonifacista.
 
Após a morte de Chrispim Jacques Bias Fortes, em 1917, José Bonifácio e Bias Filho, eliminariam qualquer um que pudesse lhes tomar o poder, ainda que fossem seus aliados.
 
A Tarasca morreu após passar cem anos nesta Barbacena de hoje?
 
Quem testemunhou as eleições de 2012 em Barbacena que tire suas conclusões. Faltando uma semana para as eleições municipais daquele pleito via uma cena cômica, para não dizer ridícula. Melhor, emblemática!
Na Praça dos Andradas, no círculo que circunscreve a estátua de Bias Fortes, os cabos eleitorais e suas comitivas do Toninho Andrada e de Danusa Bias Fortes faziam uma roda alinhando-se ao tal círculo. A voz de uma das cabeças gritava “Danusa, Danusa!”. A voz da outra cabeça replicava: “Toninho, Toninho!”.
 
Independente de qualquer outro partido político ou de proposta a monstruosidade se mostrou viva. A Tarasca venceu e se impôs.
 
E cabe o trocadilho:
Ai, ai Troninho, Troninho!  Ai, ai Danosa, Danosa!
 
Diante disto quem sabe vale apelar para as rezas já que as politicagens  permanecem como dragão?! Defendei-nos S. Jorge e Santa Marta*²! Não nos deixai esquecer a História para que ela não repita seu círculo vicioso e deixe a Tarasca renascer!  Matai a Tarasca, que não deixa Barbacena evoluir política, social e economicamente. Livrai-nos das garras deste monstro.
 
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 16/09/2016


*¹Fonte de Consulta:
.RIBEIRO, Silvério - História Econômica do Município de Barbacena,  Vol. I (1989-1930), Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, Barbacena, Minas Gerais, 1912.
¹P. 142 - ²P.144 - ³P.162
.TÔRRES, João Camilo de Oliveira – História de Minas Gerais, IV º e Vº Volume, Difusão Pan-Americana do Livro.
*²Santa Marta segundo a lenda medievalesca encantou a Tarasca e a conduziu até Tarascon para que o povo a matasse.
   
 
 

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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 17/09/2016
Reeditado em 17/09/2016
Código do texto: T5763645
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