Notas
Desço na estação Vila Olímpia do trem. Lento, lânguido. Nada de novo. Mesmo pra uma sexta-feira. Piso, um primeiro passo, depois das catracas. Ao longe um som, primeiras notas. Quanto mais me aproximo, em fluxo de anônimos pela viela que me expele automaticamente à Rua Funchal, no fim, eis um músico. Tocando saxofone, uma melodia que me parece Kid Abelha, talvez desafinadas poucas notas. Mas me encanta imediato sua coragem. Ousadia e humildade numa folha branca A4, presa por pregadores de madeira, à frente de sua estante. “Sempre quis ser músico. Graças à crise, virei”. Antes de sumir à vista, leio ainda uma nota afiada: “(1ª semana)”.