GOLPE
Pensando bem, o que os ptralhas chamam de golpe político foi, em verdade, o maior golpe de sorte na vida deles.
Durante os treze anos de mandato, os ptralhas fizeram as maiores manobras para tirar proveito (ilícito) de toda máquina administrativa.
Aproveitando-se da estabilidade econômica conseguida pelo plano real, que eles foram contra, e pela arrecadação crescente, fizeram farta e irresponsável distribuição daquilo que se poderia denominar de benefício social para as camadas mais inferiores da sociedade.
A decantada distribuição de renda nada mais foi do que a garantia de currais eleitorais pelo simples fato de que, “quem dá o peixe, mas não ensina a pescar”, cria o vínculo de obediência obrigatória e por outro lado, como escreveu o poeta Humberto Teixeira:
“Seu doutor, uma esmola para o homem que é são,
Ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão”
E sem alternativas válidas, preguiçosos, analfabetos e despreparados, os beneficiários ficaram viciados em receber a trôco de voto.
Naqueles rincões mais secos do polígono semiárido, distribuir bolsas sob quaisquer títulos, não resolve o verdadeiro problema que é a convivência com os períodos de tempo onde o clima não permite a produção agrícola e nem a criação de animais para sustento e comercialização.
Os ptralhas nunca foram governo e a maioria dos seus membros não têm formação acadêmica para administrar a coisa pública, daí agirem pelo improviso e pelo imediatismo.
Sem controle, os programas de benefícios sociais foram assaltados pelos espertos de plantão (funcionários públicos comissionados e concursados, prefeitos, vereadores, fazendeiros, comerciantes, até defuntos recebem o bolsa família e no lago Paranoá de Brasília tem quatro mil “pescadores artesanais” inscritos na bolsa defeso).
Não houve obediência ao planejamento aprovado pelo congresso cujos membros, devidamente corrompidos pela política do “é dando que se recebe”, se fizeram omissos e coniventes, pois foram raras as vozes que se manifestaram contra os desmandos na condução das políticas interna e externa.
As alterações climáticas e o acúmulo de erros levou a economia ao caos.
A inflação nos preços dos produtos mais básicos encolheu o poder de compra da população que, sem alternativa parou de consumir e, quando isso acontece num regime capitalista, o país para e o Brasil parou com um saldo de mais de doze milhões de desempregados, recordes de falências de empresas e frustração de receitas.
O Brasil parou como pararam as obras faraônicas, a eternamente vantajosa em termos eleitorais transposição do Rio S. Francisco, a construção de casas populares, cujos materiais de construção se sublimam bem antes da conclusão e que, como na maioria dos gases, não conseguimos ver o que deles sobrou, as estradas de ferro, os portos, aeroportos, hidrelétricas cujas construções que nunca deveriam ter sido autorizadas pelos malefícios ambientais e pela insignificante vida útil que terão pelo assoreamento a que estão fadadas, conforme as características dos rios onde foram implantadas.
A sociedade exigiu e o congresso fez o impedimento da presidente e os ptralhas espernearam num jogo de cena digno de elogio.
Demonstraram a máscara do inconformismo com tudo que foi dito e sobejamente provado, mas por baixo da máscara havia a verdadeira face do alívio daqueles réus que, sendo culpados, são absolvidos dos crimes que praticaram.
Agora, como qualquer administrador falido, os ptralhas atribuem os seus erros às forças ocultas e interesses internacionais, se dizem vítimas de complô político, injuriados, caluniados e buscam iludir a opinião de quem, como eles, têm preguiça de ler, de conhecer a história, de comparar comportamentos, de analisar os fatos, e se contentam em ouvir as bravatas fantasiosas e as mentiras deslavadas do seu líder maior.
O que os ptralhas intitulam golpe, foi em verdade, o alvará de soltura porque agora não precisam mais prestar contas à sociedade.
Com a posse do vice- presidente, que foi eleito pelo mesmo número de votos dados ao titular, deixa de existir a responsabilidade pelos atos pregressos e eles estarão, como sempre estiveram, no confortável papel de opositores, com o dedo em riste, apontando defeitos sem indicar formas para corrigir e principalmente não cometê-los.