Desapego.
Quem vê aquela senhora tranquila não imagina o que ela já viveu.
De nada se queixa, de si nada diz. Mora três meses em cada lugar do país. Se é rica ou pobre ninguém sabe. Usa roupas comuns, frequenta bibliotecas públicas, cinemas, teatros, museus, parques...
Nunca se soube que tivesse ido a médico ou hospital, e não usa celular, aliança ou relógio.
Ontem doou a sua bicicleta ao filho da arrumadeira da Pousada onde morou por três meses. Lá deixou sabonete, xampu, desodorante, chinelos e chapéu.
Hoje saiu bem cedo levando apenas uma leve sacola de náilon para tomar ônibus interestadual na Estação Rodoviária.
Interessante o gesto que fez assim que o ônibus deixou a gare: passou a mãos pelos cabelos grisalhos como quem os penteia. Ou apaga lembranças.