Desapego.

Quem vê aquela senhora tranquila não imagina o que ela já viveu.

De nada se queixa, de si nada diz. Mora três meses em cada lugar do país. Se é rica ou pobre ninguém sabe. Usa roupas comuns, frequenta bibliotecas públicas, cinemas, teatros, museus, parques...

Nunca se soube que tivesse ido a médico ou hospital, e não usa celular, aliança ou relógio.

Ontem doou a sua bicicleta ao filho da arrumadeira da Pousada onde morou por três meses. Lá deixou sabonete, xampu, desodorante, chinelos e chapéu.

Hoje saiu bem cedo levando apenas uma leve sacola de náilon para tomar ônibus interestadual na Estação Rodoviária.

Interessante o gesto que fez assim que o ônibus deixou a gare: passou a mãos pelos cabelos grisalhos como quem os penteia. Ou apaga lembranças.

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 15/09/2016
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