O PRECONCEITO DO JORNALISTA
Crônica de Gustavo do Carmo
Já ouvi várias vezes - na faculdade de jornalismo que eu fiz, nas dicas de sucesso da mídia e principalmente na pós-graduação em telejornalismo que eu não terminei – que o jornalista não pode ser preconceituoso.
Pela vivência que eu tenho, esse conselho só vale para o horário de trabalho, pois o jornalista – salvo algumas exceções - é o profissional mais preconceituoso que existe. Durante o expediente ele é obrigado a entrar em favela, enfrentar tiroteio, entrevistar humildes trabalhadores, ignorantes, desdentados (nada contra estes), assaltantes, moradores de rua, etc. Mas, acabou o trabalho, ele volta para o seu mundo esnobe e hipócrita: só faz amizade com gente bem-sucedida, com bom nível cultural, pessoas ricas e influentes e, principalmente, comunicativas.
Usa as eternas e convincentes desculpas do tipo “estou muito ocupado”, “não tenho tempo nem para comer” e “não gosto de redes sociais” para não ligar, não responder e-mails, não se reunir para fazer trabalho em grupo, não seguir no Twitter, não adicionar no Facebook. O jornalista não se interessa pelos mais tímidos, anônimos e até com deficiência intelectual, mas os amigos e influentes ele faz questão de procurar. Jornalista mulher só quer se casar com homens ricos que conhece nas baladas da vida.
Sou vítima desse tipo de gente e de suas “desculpas” há mais de dez anos. Deveria ter me acostumado, mas não consigo. A cada ano fico mais amargo e desconfiado. Por causa desses hipócritas eu crio ainda mais preconceitos contra os jornalistas preconceituosos.