CASAMENTO COMERCIAL
CASAMENTO COMERCIAL
Homem de negócios, o atacadista Sr. Arriaga, cujo filho estava a diplomar-se em Lisboa, e o Comendador Hortigão, pai de uma delicia de pequena, não tendo mais transação a fazer um com o outro, resolveram casar as fortunas.
Provada que ficou a igualdade de condições das mercadorias – pergaminho e dinheiro = dinheiro e formosura – combinaram o seguinte: mal chegasse o doutorzinho da Europa. O Sr. Arriaga levá-lo-ia a casa do Comendador e, nessa mesma ocasião, o faria pedir a mão da menina. Esta, por sua vez, não se negaria ao pedido, afeita como estava a obedecer à vontade do pai.
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Achava-se em festa a residência do Sr. Hortigão. Honraram-na os mais fortes negociantes e famílias de nossa praça. O palacete está solene e mercurialmente iluminado.
Acaba de ser pedida a mão da adorável Conegundes, filha do Comendador.
Dança-se, passeia-se na sala, conversa-se, reina completa alegria; principalmente no semblante dos realizadores da transação que se acaba de realizar à guisa de pedido de casamento.
A uma janela, enquanto os demais se divertem, os noivinhos conversam como dois pombinhos.
Porque ache bonito um rapaz fumar, e não tenha ainda visto um cigarro nos lábios do noivo, a pequena, em dado momento, pergunta:
- Não fuma, Dr. Arnaldo?
O rapaz então sorri e responde:
Raramente. Apenas quando me contrario por ter feito alguma tolice.
E puxa de um charuto, que leva elegantemente à boca...
Autor: Nestor Tambourindeguy Tangerini
Com o pseudônimo Conselheiro Armando Graça. Rio, março de 1948, p. 1, revista O Espêto, no. 9.