# 1
João andava desesperado em busca do maldito dinheiro. Há tempos que não recordava o resultado prazeroso da escrita. Preencher o papel de linhas não somava mais atividade necessária para sua sobrevivência psíquica, porque tudo lhe direcionava a uma única opção, alcançar o dinheiro. Esse maldito e doloroso objeto não faz de um homem a felicidade que lhe cabe, tão pouco o preenche de satisfação, torna-o panas mais um homem fora de si. A sede não sessa, pois a medida em que se consegue acumular, mais se quer ter. A questão não está em quem já o fez ou como conseguiu juntar sua grana maldita, o embaraço está em todos aqueles que perdem sua existência por este propósito. Todos forçam João a fazer o mesmo, correr em busca dos seus objetivos de vida em busca de mais dinheiro. Acontece que quanto mais João ganha mais ele gasta e assim cotidianamente. Fazer dinheiro para guardar também não o satisfaz a sede da sobrevivência. Se for para jogar com as peças que traz consigo é melhor que assim o faça em virtude de todo tempo desperdiçado para tal. É lógico que para sobrevivência sua precisa a todo momento manter sobre as mãos o maldito que regula seu cotidiano, mas o sentido escapa a sua reflexão a partir do momento em que o indivíduo resume sua existência apenas ao acumulo de dívidas que devem ser pagas pelo seu suor inerte à realidade que o abstrai. A cada novo dia uma nova oportunidade, pelo menos foi isso em que João sempre acreditou sobre a realidade da vida adulta. A cada novo dia a se passar apenas soava o sino da repressão qual estava submergido, todos gritavam aos seus ouvidos virgens uma nova multa, uma nova compra, um novo gasto desnecessário e por fim uma nova desmotivação para enfrentar o abismo. João não suportava mais este estilo de vida que apenas lançava mão de sua existência em função de uma busca sem propósito a qual o fizesse acreditar na pequena hipótese de que tudo iria melhorar.
--- Vá trabalhar João que você ganha mais!