MATCH POINT

Como a grande maioria das pessoas, era destro. Mas isso, não o tornava previsível. Várias imagens passavam pela sua cabeça. Não era hora para isso. Mas, como se controla a mente? Levantou e abaixou a cabeça. Olhou para o chão. As dificuldades que superara para estar ali; a falta de apoio, e depois o apoio fundamental; o enorme esforço físico; as vitórias e as derrotas; a perseverança. Olhando para os próprios pés, com esse filme passando em sua mente, sequer se dava conta dos impulsos de memória física que o levavam a quicar a bolinha verde com a mão esquerda, enquanto rodava na mão direita, a raquete. By heart! Imaginou que se fosse ele no lugar da bolinha, por capricho, ela talvez lhe disse: "to te sacando, hein". Mas, isso não ia acontecer. Ela poderia até influenciar a trajetória, ainda assim, era ele quem a tinha nas mãos. Numa das cenas daquele filme, surgiram as palavras do seu mestre: foco! Respirou fundo. Uma; duas vezes. Parou de quicar a bolinha. Levantou a cabeça e olhou para o outro lado da quadra. Com a cabeça na direção do outro jogador, inclinou o olhar e observou o placar. Match point! Silêncio absoluto. Abaixou novamente a cabeça, mas dessa vez com os olhos fechados. Inspirou e prendeu o ar no peito. Quicou a bolinha três vezes e a arremessou para o alto. Abriu os olhos e acompanhou o seu movimento, com a cabeça. Ainda na trajetória ascendente, desferiu-lhe um violento golpe com a raquete. "Uhãaoul!" Gritou. Não sabia bem o porquê do grito. Talvez, porque todos fizessem o mesmo; talvez, nem existisse um porquê. Ace!