Assim ou ...nem tanto 63
Assim ou…nem tanto 63
Ser
Cito hoje alguns Poetas que têm uma palavra a dizer neste assunto. Pablo Neruda ao afirmar que “a poesia tem comunicação secreta com o sofrimento do homem” deixa-nos a definir o sofrimento mas alerta-nos, ao mesmo tempo, para o reservado da ligação. Não somos só aquilo que mostramos, somos, também, o que carregamos de amor e angústia, de vontade, de temor. Pudesse eu libertar-me de peias e uma nova espécie de homem haveria de passear-se nu por onde calhasse. A nudez física, a que assusta donzelas, é bem mais suave de ver que a outra que se magoa por tudo e nada, assim tenra e indefesa.
Paradoxalmente, é de terreno macio e instável que o ser se faz sensível, filigramático, complexo em suas razões ponderosas, as tais que fazem o corte radical de carácter, que desacertam consensos, que fazem o polimento sangrante da diferença. Cito aqui Arthur Rimbaud a referir que “o Poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento dos sentidos”. Claro que eu também contesto para assumir a vantagem da palavra insensato na sentença. Mesmo em tempo alheio à “Santa Inquisição” não é saudável vestir a pele dos bruxos e sair à rua desregrado no que quer que seja. Podemos concordar se tudo for secreto, se o alheamento da norma nos exaltar a sensibilidade, a razão, os valores tímbricos da arte, da visão ou da beleza até ficarmos semideuses no secretismo da soberba.
A poesia, disse Victor Hugo, pode ser achada na intimidade de tudo. Pode, de facto, mas nem sempre está. Muitas intimidades são tão fortes que a poesia terá de ser igualmente truculenta para ficar.
Termino com Pedro Chagas Freitas que pergunta: -O que é a poesia senão a forma mais bela de procurar?