De Volta à Escola, de Volta à vida.
Estou na sala de aula, sob a integridade do silêncio absoluto, tentando concluir minha prova. Em vez de estudante virei objeto de estudo. Faço o papel de professor da escola. E aos demais alunos, sirvo de soluções óbvias, me pedem explicações sobre as perguntas, colam de mim as respostas - contra minha vontade. O professor não diz nada, em vez disso, ignora. Afinal, colar do outro é muito prático. Não exige estudo.
A ficha cai. Nos últimos três anos, com a poesia e o estudo autodidata, evolui o que não pude fazer a vida toda. Descubro, ainda, que meu próprio professor desconhece uma simples pronuncia da palavra "happy hour", tampouco sabe do que se trata. Não fosse o bastante, ao ler em voz alta, ignora virgulas, descaracteriza palavras, inviabiliza o plural, desconhece siglas. Me pergunto: então isto é o Ensino Público atual? Fico puto. Depois, alívio. Volto no passado. Mais precisamente quanto ao meu desempenho em sala de aula no período estudantil. Controvérsia; contestação, luto: o que antes era apenas um sonho de consumo para alguém cujas notas eram péssimas, de baixa frequência e nenhuma expectativa sobre o futuro, nada mal. Finalmente eu um CDF aos trinta. Rio e choro, contrariado, pelos desencontros banais com que a vida coage impiedosamente sobre alguém vulnerável diante da própria condição humana decadente e perspectiva irrisória, e que aquele adolescente de laje - aquém gastava as tardes soltando pipa e revirava as noites Paulistanas em claro confeccionando seus balões -, aquele garoto era eu. Um garoto que carecia tão somente do essencial que toda criança necessita, como a importância insubstituível de uma família por perto desde sempre. Ponto. Nada posso com o passado.
Enfim, em casa. Não desejo muito. Quero apenas algo bom pro jantar e, daqui pra frente, a minha vida de volta.