Foi no Parque Estadual do Jaraguá
Ele é paulista, eu nasci e cresci em Minas. Ele fala amoR, deixando bem claro que a letra R está ali no final da palavra, eu já falo amÔr, deixando o R quase despercebido, não por não saber de sua existência, mas por preguiça de pronunciá-lo e ter o costume de falar assim, comendo o final das palavras. Coisa de mineiro, coisa de quem come quieto. Embora espevitada, sempre fui na minha, ele também. Mesmo que tivesse vivido bem mais coisas do que eu, saísse bem mais do que eu, e tivesse bem mais amigos do que eu. Ele é, se não me engano, dois anos mais velho que eu. Não tenho mais certeza. Faz tempo que tudo aconteceu. Conhecemos-nos devido a um amigo que tínhamos em comum. Ele estava vivendo um momento desagradável em sua vida e era obrigado a passar horas e horas dentro de casa, então me tornei sua fiel companhia. Conversávamos o dia inteiro, inclusive nos intervalos em meu trabalho, ou quando eu tinha alguma aula cansativa na faculdade. Falávamos de tudo, do trânsito, de música, de passeios que poderíamos fazer em BH, e lugares que poderíamos ir em “Sampa”. Ele me contava sobre seus avanços, seus projetos, suas possíveis viagens. Era uma delícia poder conversar com alguém que fosse tão compatível e não ser obrigada a sentir amor, paixão, ou algo do tipo. Éramos amigos, e isso era algo que nos fazia bem. Eu não queria me apaixonar por ninguém, e nem ele tinha esse desejo em seu coração. Isso tirava do roteiro qualquer possibilidade de nos envolvermos emocionalmente um com o outro. Além de que, eu estava aqui na minha BH e ele em sua movimentada São Paulo. Tínhamos nos visto uma vez, e nem conversávamos direito quando isso aconteceu. Quatro meses haviam se passado e lá estávamos nós, conversando firmemente.
Numa segunda-feira, não me lembro a data exata, sei que era uma segunda porque não havia trabalhado no dia anterior, ele desapareceu das redes sociais, não me mandou nenhum e-mail, nem um recado qualquer. Okay, o último sinal de vida dele tinha sido domingo à tarde, mas para evitar preocupações, lhe enviei uma mensagem desejando-lhe uma boa semana. Não respondeu nada durante todo o dia. Fiquei preocupada, mas talvez o celular houvesse quebrado, o computador poderia ter quebrado também, mas algo devia ter acontecido para justificar tal sumiço. Saí do estágio e fui pra aula. Ir estudar depois do trabalho me deixava com a feição, totalmente, cansada. Naquele dia eu estava pior, estava preocupada, e quando isso acontece é como se eu não percebesse quase nada ao meu redor. Cheguei na portaria da faculdade e fiquei longos segundos procurando meu cartão de entrada. Precisava dele para entrar no Campus. Procurava daqui e dali e nada. Estava ficando aflita porque já tinha um moço apressado, colado atrás de mim. Poxa vida! Espera aí, seu moço! Tive de sair de perto da catraca pro moço poder passar. Foi aí que percebi. Adivinhem quem era o tal moço, meus amigos? Ele mesmo! Estava ali, de carne e osso, sorrindo pra mim. E foi bem ali, na entrada de minha faculdade, descabelada, sem maquiagem e morta de fome, que descobri que o amava. Nem todo mundo sabe quando começa a amar alguém, mas comigo foi naquele instante. Talvez eu já o amasse antes e não quisesse admitir, mas ver ele ali me fez sentir como se todo o ar saísse dos meus pulmões. Talvez eu tenha parado de respirar por alguns segundos. Eu não ri, não me movi, não falei. Fiquei imóvel, e posso imaginar minha cara de “o que você está fazendo aqui?”. Foi aí que ele me abraçou. Não fazia ideia que ele pudesse ser tão cheiroso. Fiquei meio sem reação por uns minutos e quando reagi, eu chorei. Tanta coisa pra eu fazer e eu chorei. Por que eu fui chorar, meu Deus? Chorei e ri ao mesmo tempo. Ele sorriu e me abraçou ainda mais forte. Parecia cena de filme, coisa de livro estilo Nicholas Sparks, aquela coisa bem melosa, sabe? Só que eu o amei naquele momento, porém, não sabia o que ele sentia, ele não era muito de falar sobre sentimentos. Mas tomei o fato dele fazer aquela surpresa como um: Eu te amo, não consigo viver sem você e por isso vim viver o resto da vida ao seu lado!
Infelizmente, ele ficaria comigo até na quarta-feira. Foram dias rápidos, mas foram os dois dias mais incríveis da minha vida. Principalmente, por não ter sido planejado. Sempre planejei tudo ao meu redor e a melhor parte aconteceu fora do meu controle.
Ele voltou pra Sampa, continuamos conversando todos os dias. Eu engoli todas as declarações de amor que eu poderia ter dito pra ele. Ele nunca me disse o que, realmente, sentia.
Após nove meses conversando, sem saber o que tínhamos nos tornado, ele me convidou pra visitá-lo em minhas férias. Eu fui. Dessa vez, havia algo estranho entre a gente. Não sei se era medo, receio, dúvida. Nos divertimos muito juntos. Mas, não foi como deveria ser.
No último dia da viagem, ele me levou pra um mirante. No Parque Estadual do Jaraguá, se não me engano. O lugar era incrível! Consegui ter uma vista maravilhosa da grande São Paulo. Ele sorriu a me ver sorrindo, me abraçou e disse que estava com medo do nosso amanhã. Era difícil demais não poder estar sempre por perto. Foi ali, mais próximo ao céu, que terminou aquilo que não chegou a começar. Foi ali que senti seus lábios nos meus pela última vez. Foi ali que ele disse que me amava, e justamente por me amar, não queria que eu sofresse com a dor da distância. Foi ali. Talvez, vocês esperassem que essa crônica terminasse com um “viveram felizes para sempre”. Perdoem-me por isso. O amor nem sempre unirá duas pessoas por toda a vida. Mas, quem disse que não vivemos felizes depois disso? Sofremos sim e odiamos a distância por longos meses. Porém, hoje construímos novas histórias, ao lado de outras pessoas.
O que ele é pra mim? Ele é o paulista mais incrível que já conheci, aprendi a me apaixonar pelo sotaque de Sampa por causa dele. Vivi muitas coisas boas por causa dele, e ele fez parte da construção do meu eu.
Como eu disse, o amor nem sempre unirá duas pessoas por toda a vida, talvez ele una apenas por um momento, e mesmo assim será amor. Mesmo assim será importante. Mesmo assim trará boas lembranças.