ACONTECIMENTOS DE QUARTEL... (Preparando para a guerra).
ACONTECIMENTOS DE QUARTEL
(Preparando para GUERRA)
AUTOR - SMELLO = Alberto Frederico.
Ao pedir baixa na Escola Naval, Rômulo notara que a vida militar era
incompatével com sua personalidade.Verificou inúmeros constrangimen-
tos injustificáveis, que serviam como adestramento e manutenção da
rigorosa disciplina.Os chamados trotes aplicados pelos veteranos eram,
antes de qualquer razão, humilhantes e os oficiais assistiam impassí-
veis, sem nenhuma interferência, sob o pretexto de terem passado por
idênticas situações.
A admoestação tinha que ser ouvida em silêncio, sem direito de res-
posta ou explicação, e pior em posição de "sentido". Mesmo o insulto injurioso não podia ser contestado, enfim o tratamento impressionava o
jovem "aspirante".
O Brasil declarando guerra ao "eixo", Alemanha, Itália e Japão, Rômu-
lo reverteria à Marinha como 3° Sargento, apesar de não ter prestado
juramento à bandeira. Estava cursando o complementar de engenharia
e fizera concurso para admissão à Escola Naval, daí a razão do subal-
terno posto que serveria.Não se conformou em ter de prestar serviço à
pátria numa posição subserviente ao seu preparo.
Havia trote esperituoso,em que o calouro não ficava sob humilhação,
propiciava gracejo, mas a grande maioria, independente da violência, oroginava-se da má indole de veteranos sarcásticos, que se sentiam temidos e realizados.
A título de ilustração, recordemos os mais chistosos, que não feriam
a dignidade do novato, actados sem revolta, geralmente participavam da brincadeira. À mesa de refeição sentavam seis veteranos e quatro
calouros. Esses teriam de comer em ângulo reto, se errassem ou per-
dessem a coordenação motora recebiam garfada de comida no rosto,
fatal porque sujava o fardamento, que os obrigavam a correrem até
o camarote e trocá-lo. Outro o da sobremesa, nem sempre apreciada, o aspirante chefe da mesa perguntava: - você gosta de doce de bata-
ta roxa ? O calouro fica indeciso, não sabia o que responder, se sim, tinha de comer a compoteira toda, se não tambem a ele era destinada
a vasilha da compota.E,quando tivesse aquele doce em outro ocasião,
à iguaria caberia a ele comer, procedimento que o obrigava a não se a-
limentar, pois enfrenataria a doceira. O taifeiro que servia as refeições
costumava avisar antecipadamente. Mas, o pior mesmo se chamava coquetel "Molotof"(nome surgido na Russia em homenagem ao seu man-
datário), consistia na mistura em copo grande de groselha,refresco co-
mumente servido, de tudo que tinha sobre a mesa, feijão, arroz, enso-
pado, caldo de carne, cenoura, molho de tomate, salada, parte da so-
bremesa, regado com azeite, vinagre e pimenta. Tudo aquilo,misturado
com a colher, o calouro tinha de sorver num gole só, quando chegava
no estômago ecoava como uma bomba, daí o nome.
Pitoresco, consistia em saber a dimensão do pátio da Escola,contado
em palitos de fósforos, além da dor que dava nas pernas,quando o alu-
no calouro chegava a um valor expressivo, (um milhão, setecentos e -
vinte,por exemplo),o veterano perguntava quanto tem até aqui? O po- bre calouro informava e ele dizia está errado, tem menos, começa tudo
de novo. Dois tenebrosos trotes procediam na piscina, o chamado "cal-
do", de triste memória, pois geralmente o calouro saia de lá direto para
a enfermaria;e o "chicotinho queimado",que tinha como palco a chama-
da "praça dos canhões", local ermo, pouco frequentado pelos oficiais.
Resumia-se em uma roda de calouros, principalmente aqueles recalci-
trantes, que não atendiam as recomendações dos veteranos, chinela-
das nas nádegas. Tinham sorte os que se livravam, o que não era fácil.
Os chinelos que todos usavam de solado de cordas trançadas, molha-
vam. Geralmente essa brincadeira impedia durante largo tempo de sen-
tarem-se.
O mais divertido e original foi a comemoração da Lei do Ventre Livre",
embora vexatório.Os veteranos recomendaram aos calouros que trou-
xessem no domingo a noite uma garrafinha de laxativo. Conferiram, aos
que deixaram de atendê-los reservaram idêntico purgante e foram após
parar na "praça dos canhões". Formaram os pelotões no pátio, fizeram
uma apologia à lei, e disseram que iam comemorá-la. Seguiu-se a ordem, todos tomariam de um gole só! Na parte térrea da escola ha-
viam cinquenta sanitários, afora os de outras dependências e nos cha-
mados camarotes. Fecharam quase todos, deixaram apenas cinco abertos para serem usados pelos 65 calouros, foi um sufoco total e
grande trabalho, no dia seguinte ao alvorecer para os taifeiros e mari-
nheiros.
Somente os veteranos podiam jogar sinuca ou bilhar, os calouros es-
tavam proibidos de frequentar o salão, nem deveriam permanecer nas
imediações, sob pena de sofrerem as consequências dessa temeridade.
Se alí encontrado,o veterano obrigava a entrar no local em que fica-
vam as mesas, e o calouro teria de ir apanhar a bola preta e trazer a
ele.A ação resultava numa saraivada de tacos dos que estavam jogan-
do, resultando em graves ferimentos e ainda como castigo,à noite dire-
to para praça dos canhões.
Todas essas atitudes insólitas motivaram Rômulo encerrar a carreira
que começara na Escola Naval.
EVITANDO SERVIR COMO 3º SARGENTO NA MARINHA.
Com o advento da aproximação da guerra no Brasil,a convocação se-
ria inevitável, o que obrigou Rômulo a canditar-se, atravé de prova de
seleção, a uma vaga no Curso de Preparação de Oficiais da Reserva,
(CPOR), do Exército.
Independentemente dos exercícios físicos. adestramentos, maneabi-
lidades, convivências com as armas em uso (desmontagem, montagem,
limpeza para permanente inspeções, aprendizagem de tiros, etc), mar-
chas, manobras em diferentes terrenos, práticas e desempenho de co-
mandos, topografia de várias áreas, inclusive com uso de pranchetas, constituiam-se na rotina diárfias do quartel.
OS QUASE FATÍDICOS ACONTECIMENTOS.