A delação
Depois de “azular” por mais de oito horas, a Azul me levou até o desejado destino: Viracopos. Essa parte foi fácil. Difícil foi conseguir as malas de volta. Acho que elas são como nossas coisas na Internet. Depois de um voo desses, elas ficam na “cloud” e daí não querem mais voltar. A primeira chegou depois de uma hora e vinte minutos. A segunda levou ainda mais 37 minutos. Tudo bem. Tudo é festa quando você está visitando sua terra natal.
Coloquei as duas no carrinho e me coloquei na fila da alfândega. Antes disso, precisei me desviar de inúmeros garotos que corriam como doidos em volta das esteiras. Era como se ainda estivessem no Reino Mágico.
Estava chegando a minha vez. À minha frente estava um simpático casal de provavelmente 35 – 40 anos com seus filhos. Uma garota de uns quinze e um garoto de cerca de 9 anos. O respeitável senhor fiscal, com aquele poderoso distintivo da Polícia Federal, fazia perguntas e depois indicava para onde o indefeso viajante deveria ir.
Quando chegou a vez do casal, ele perguntou:
-Eletrônicos? Mais de 500 dólares?
Apesar da enorme quantidade de malas e pacotes – malas enormes – a dona da casa assumiu o controle da situação e falou:
-Não senhor. Apenas algumas roupas e uns presentinhos.
Ela ia continuar, mas o garoto, que depois fiquei sabendo que se chamava Rodolfo, interveio:
-Mamãe, a senhora se esqueceu do computador de 550 dólares que o papai comprou! E também do celular desbloqueado de 480 dólares.
A progenitora tentou desesperadamente conter a delação do filho amado, puxando-o para trás de si, mas o estrago já estava feito. O fiscal já apontava a sala de torturas. Aquele lugar onde eles esquartejam nossas malas, devassam nossas compras, entram na intimidade de nossas vidas.
Eu realmente não tinha nada para declarar, mas ele nem sequer perguntou. Mandou-me embora, livre de qualquer exame. Enquanto saía, a mãe, contrariada, arrastava o Rodolfo para a temida sala, mas ele continuava olhando para trás e gritando para o oficial o resto da lista:
-...o perfume de 85 dólares para o chefe do papai, o relógio Casio do tio Alfredo, o tablet da Marisa, etc. etc. Uma lista interminável que estava pela metade, quando finalmente eles desapareceram na sala do terror.
Como diz meu amigo Nino Belvicino, “criança é fogo!”...
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