AS NINFAS DE BELO MONTE
A população inteira estava a mercê da triste sina, ilhada, esperando as águas subirem para o alagamento, o eminente extermínio das indefesas criaturas da colônia, estava próximo o fim da tranqüilidade, da paz que havia ali antes daquela catástrofe anunciada, que acontecia em nome do progresso, da geração de energia, coisa aliás, que nunca fizera falta por lá, o brilho do sol sempre aqueceu os dias, a luz prateada da lua iluminava as longas noites, fora sempre assim, um perfeito revezamento, um dia após o outro!
A inundação chegava aos poucos sobre aquela região, invadindo terras e espaços sem dó nem piedade, dizimando os diversos tipos de vida, da flora e fauna ali existentes, só restara ela dentre outras espécies que moravam nas áreas mais baixas, já submersas, que sucumbiram ao inevitável afogamento.
Não haveria como escapar, não seria remanejada, não houve nenhuma preocupação de defendê-la, de levá-la para outras áreas de terreno habitável.
Era desoladora a situação das miseráveis criaturas que viviam no cotidiano de uma sociedade trabalhadora e tranqüila, agora a favor do destino, estarem circundadas pela imensidão daquele mar.Restava ainda a esperança, ainda que remota para uma pequena e privilegiada parte dos residentes do morro, de escaparem da cruel calamidade.
Das castas ali existentes, as ninfas, membros das larvas, selecionadas entre outras classes de soldados e operários, categoria distinta, pré destinada pela sorte, aguardavam a época certa do ano para a esperada metamorfose, quando criariam asas, transformando-se em siriris, e, como cupins alados saírem em revoadas em busca de parceiros para o acasalamento, formando jovens casais reais, para a criação de novos cupinzeiros em terra firme!