A IDADE DAS FADAS

(Para Thais Araújo Nóbrega)

Pezinhos descalços e asinhas de colibri. Para que o chão? Para que o céu? 15 anos é a idade das fadas. Na varinha de condão, os vários desejos do mundo. Qual é a mais venturosa? Alinhadas, um milhão delas. Todas, debutantes. Das fadas, vê-se apenas a Graça. A cada casa da amarelinha: uma trança, um aplique, uma criança, uma dança, uma fantasia, uma esperança, uma brincadeira... De verdade.

Tempo, ingrato tempo, que a tudo desmuda; e que só nos dá a liberdade das anotações: um bilhete de palavras conjugadas; a foto abaçanada, gasta de tanto se olhar; as lembranças do que não queremos lembrar; os beijos que deixamos de trocar; as despedidas... Não basta apenas amar as fadas, nem delas conquistar amor parente. As fadas de 15 anos (e todas são da mesma idade) passe o tempo que passar, são nossas eternas namoradinhas. Que se quebrem todos os relógios, guardiões dos séculos.

Mesmo ao desabrocharem no limiar da vida, deveriam ficar assim, emolduradas; santificadas para sempre. O que mais me faz mais triste é vê-las crescer; o que mais me faz mais feliz é vê-las crescer. Qual ventre é tão bendito? Eu sei de uma fada, uma de 15 anos; uma fada-criança; uma dessas beldades, assim como todas as fadas; e essa veio para me benzer. Mesmo no cimo de alguma tristeza o meu pensamento é dirigido à ela, incondicionalmente.

Fada-menina que faz das minhas ansiedades, expectativas; e ainda que tardias, um alento. As auroras que alcancei com as mãos, por causa das noites mal dormidas, são oferendas; e o sol de cada manhã, a hóstia da eucaristia. Eu faria tudo novamente, fada-minha. Não seria sacrifício algum. Tenho como estímulo, os desenhos coloridos com lápis de cera, e que ainda os guardo na gaveta do armário; e os dizeres de amor... Presentes de fada nas datas do papai, feito relicários.

Sou a menor de todas as medidas. Porém, o mais orgulhoso de todos os mortais. A minha fada é do tecido da benignidade. É uma legítima virgem, imaculada. O seu hálito é de flor de alfazema silvestre. No timbre da voz, o concerto mais afinado. A ternura e a meiguice, em carne e poros. É a mais amada das amadas. E tudo o que eu disse, multiplicado cem vezes, ainda não representa de todo uma verdade. Há sentimentos que as palavras não alcançam.

Não sei o que há depois do fim. Porém, as fadas sabem. E isso me conforta. À elas entrego os meus dias pósteros. Não te abençoo agora, pois a minha decência não é tanta; suplico então, de joelhos, sob a cruz de meu próprio calvário, que o seu amor cure todas as feridas. 15 anos é a idade das fadas. Pezinhos descalços e asinhas de colibri. Para que o chão? Para que o céu?

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 13/09/2016
Reeditado em 25/05/2023
Código do texto: T5759743
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