Ô MARVADA!

Havia apenas seis meses que eu tinha sido revascularizado e precisava ir à fábrica no interior do Estado de São Paulo na região centro-oeste fazer um trabalho urgente e importante. Eu ainda sentia dores e estava muito traumatizado com o ocorrido. O medo de enfartar ainda era presente, principalmente à noite. Mas empregado não manda, obedece. E lá fui eu. Pela dieta não era problema, sempre existe uma saladinha, um peixinho, um bifinho magro e água mineral. Essa era a minha dieta há seis meses e mais alguns remedinhos com hora certa e dormir cedo.

Fui a um restaurante jantar um filé de peixe, um purê e uma salada. Até aí sem problemas. Eu era o único naquela hora. Sentei-me de frente para o balcão e vejo um grande sortimento de cachaça. Levantei-me e fiquei lendo os rótulos, algumas eu conhecia outras já tinha ouvido falar, mas teve uma que me chamou mais a atenção. Pedi para ler todo o rótulo e o barman deu-me a garrafa. Quando li que no nome tinha a palavra magia (não me lembro do nome todo) e a origem era um local próximo de onde eu ia pescar no feriado prolongado que vinha próximo, fiquei com água na boca e uma vontade irresistível de experimentar. Bebo ou não bebo? Eis a questão. Não resisti. Pedi só um biquinho de passarinho, mas o barman deu uma dose de dois dedos no copinho. Dei a bicada de passarinho e levei o resto para a mesa.

Sabia que a bicada de passarinho nada podia me fazer, pois um copo de água neutralizaria o álcool, mas o cálice sim. Lembrei-me do Chico Buarque. A tentação era demais, o medo de morrer também, quem venceria? Não demorou em saber, dei mais um gole já não era mais um bico de passarinho. Molhou toda a boca e escorreu sedosamente pela garganta. Sei lá quanto tempo eu não sentia tanta satisfação. - Ô “marvada”! Você é gostosa demais!!! Dei o terceiro gole e pensei: “Seja lá o que Deus quiser, mas espero que Ele queira que eu continue”.

Chegaram o peixe, a salada de palmito e tomate e o purê. Estavam bons demais e tomei a minha água em dobro. Isso aconteceu há treze anos e estou muito bem com um coração que bate regularmente e ama! Como é gosto amar!!!

Nota: Fui pescar, mas o alambique ficava a 100 quilômetros do ponto de pesca. Sem cachaça.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 12/09/2016
Reeditado em 24/09/2016
Código do texto: T5758705
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.