Um circo diferente
Nós vivemos sobre o fio da navalha, andando no arame, na corda bamba de um circo cujo palhaço é o faz tudo da equipe circense. Fazemos palco com malabarismo para pagar e reger nossas obrigações diárias, enquanto cidadãos devedores de impostos e obrigações sociais. Fazemos do trapézio e o seu sobe-e-desce contínuo, nossas tarefas do dia-a-dia em nossa oscilação de humor frente às adversidades e atribulações da vida moderna.
Vivemos como um leão numa jaula, com pouca comida e pouco espaço para locomoção; e nenhum divertimento enquanto trabalhador, ao som do chicote e do açoite de um domador com cara de Fisco, polícia e Juiz e o submundo que nos mantém presos em casa e dançando, pulando argolas, subindo em cadeiras e pulando em rodas de fogo para uma plateia cada vez maior de espectadores da desgraça alheia.
A televisão está aí, mostrando as bizarrices de nossas mazelas cotidianas. Depois das novelas, dos seriados, dos filmes b, das produções de baixo valor cultural, agora inventaram os reality-shows, os BBBs da vida, os No Limite que nada mais são do que a baixaria institucionalizada e banalizada do mundo real, onde a criação artística se tornou refém do bizarro real.
Enquanto alguns pedem a legalização da maconha, outros choram seus filhos drogados. Enquanto alguns lutam contra a prostituição infantil, os bares estão aí lotados de menores. Na televisão o que se vê é propaganda de cerveja com mulher gostosa e pelada dando o ar da graça, com todo mundo sarado festejando o que? sexo? Liberou geral? É assim que o jovem vê que tudo pode, que a onda é essa, que juventude é isso: transa, malhação, pop rock e o mundo que se exploda.
Eu não sou de circo, mas adoro a arte circense propriamente dita, a arte da brincadeira lúdica, da fantasia, não este circo real e cruel que o consumo e os governos mais preocupados com o produto interno bruto querem nos empurrar goela abaixo. Deste circo não quero ser nem espectador. A ele renego e tenho manifestado o meu repúdio e meu pensamento veementemente contra.