INSTRUÇÃO, EDUCAÇÃO FORMAL, INTELIGÊNCIA

INSTRUÇÃO, EDUCAÇÃO FORMAL, INTELIGÊNCIA

ATHINGANOI

1—FÁBULA-EXEMPLO que transcrevi do educador RUBEM ALVES:

“Da armadilha, dois ursos foram cair num circo, onde o considerado mais inteligente aprendeu logo a se equilibrar numa bola e andar no monociclo, plateia e aplausos, foto em cartazes. O considerado ‘burro’, ficava amuado num canto, sem serventia; sob promessas e ameaças do treinador, fingia não entender psicólogo diagnosticou QI muito baixo. Crise econômica!!! Circo falido, animais recambiados à floresta em longa viagem de volta. O ‘paradinho’ acordou da letargia, reconheceu lugares velhos e odores familiares, sorriu de prazer, feliz naquele mundo lindo que jamais esquecera; o ‘sabidinho’ brincava triste com a bola ganha como presente, subiu no brinquedo e tentou o número que sabia fazer – só aí tirou lembranças da memória e entendeu que não mais havia gritos de crianças, cheiro de pipoca, banca de música, trapezistas em salto, peixes mortos servidos na boca. A inteligência apenas boa para o circo não serve para viver...” --- CDA diria: “E agora, José?”

RUBEM ALVES (1933/2014) – Mais de 160 obras publicadas sobre as disciplinas do pensamento – teologia, filosofia, pedagogia e psicologia – e da literatura – crônicas e poesia, tudo traduzido em mais de dez idiomas. Reagia à educação convencional, que não educava para a vida, mas para o mercado; via a escola como chocadeira do sistema. Sonhava com uma educação criativa, as pessoas não usando esquemas alheios e sim os criando para si próprios. Vivia em Campinas, cidadão honorário da cidade.

HQ – BICHINHOS DO JARDIM, de CLARA GOMES – 4 quadrinhos - Tatuzinho ainda enchupetado: “Precisamos nos libertar da opressão do sistema escolar!” Bichinho antenado: “Mas minha mãe falou que, se eu não for pra escola, vou ficar burro!” Tatuzinho: “Quantas vezes vou ter que explicar, Olavinho... Todas as mães estão fechadas com o sistema!” --- 4 quadrinhos – Joaninha: “Tuta, veja bem... O colégio não é só para aprender matérias chatas... Também desenvolve valores!” Tatu: “Tipo quais?” Joaninha: Xô ver... obediência, subserviência, fragmento de pensamento...” Tatu: “Vo cê não está indo nada bem...” Joaninha: “Quieta, sua tabulinha rasa!” --- 4 quadrinhos – Joaninha: “Sei que você tem questões sobre a escola... mas talvez seja melhor problematizar menos... e se divertir mais!” Tatu: “Esse é exatamente o problema da escola!”

2—NOSSAS ESCOLAS e sobre o Imperador Dom PEDRO II, que governou o Brasil desde 1840 até 1889:

Tinha a educação pública como principal necessidade do povo brasileiro – assim, todos saberiam escolher e votar nos bons governantes. Mandou construir escolas com dinheiro doado para fazer uma estátua em sua homenagem.

3-MEMÓRIA E APRENDIZADO:

Somos o que recordamos e... memorize que “sem memória não há aprendizado”. A memória no tempo: Na Idade Média, a mnemótica era utilizada pelos universitários para decorar nomes de reis e períodos de governo. Durante muitos anos, na escola, memorizar era decorar nomes, datas e fórmulas, ‘conhecimento’ a ser cobrado em dia de prova. Demoraram a concluir que a ‘decoreba’ era antônima ao aprendizado. Memória não é apenas repetir, devendo ser trabalhada e estimulada porque dá significado ao cotidiano e é o acúmulo de experiências a serem utilizadas por toda a vida. Há 3 década, a neurociência fez novas descobertas sobre o cérebro humano que capta, analisa e transforma estoria curta estímulos em conhecimento – as ondas nervosas são depois requisitadas para lembrar o que foi aprendido. A introdução de um assunto novo (informações visuais e auditivas) deve estabelecer ligações com o conhecimento prévio, o cérebro fixando agora também novos fatos conceitos e procedimentos. É como procurar um prédio desconhecido e perceber que já conhecia os caminhos até aquela rua – resgate da memória e não decoreba. O papel da emoção é interessante: estudar o processo da fotossíntese ligando-o à árvore de casa, voltar ao passado ao sabor da Madeleine (PROUST). Há memórias inconscientes que apenas parecem escondidas, e de repente nos voltam à consciência... Esquecer é descartar algo pouco importante que apenas sobrecarrega os mecanismos da memorização. Um conhecimento escolar ficará arquivado, mas geralmente não lembraremos o data ou a roupa usada pelo professor, já detalhes amorosos costumam se eternizar nos mínimos detalhes.

HQ – CHIQUINHA, de MIGUEL PAIVA, 1991 – “Dramas” do universo pré-adolescente no relacionamento com família, amigos e escola (versão mais jovem da personagem Radical Chic, criada em 1982) – 3 quadrinhos – ELA, mochila às costas, olhão de tédio, MÃE pergunta: “E aí, filha, como foi no colégio? Muito dever de casa pra fazer?” “3 páginas do livro de história, 4 mapas de geografia pra fazer e 10 questões sobre o texto de português.” MÃE ironizando: “Que dão um total de...?” “Não tenho dever de matemática, MÃE! --- 3 quadrinhos – ELA, roupa colorida, porém com cara de triste, ELE pergunta: “Chiquinha, por que você está assim, de luto?! Morreu algum parente, algum amigo?” “Pior...” “Pior que morte de amigo? O que foi?” “As férias terminaram de vez!” Ele: “...É morte horrível!”

4—FATO REAL transcrito de texto do político BENJAMIN FRANKLIN:

“Em 1744, o governo do estado da Virgínia, nos States, informar aos chefes de seis nações indígenas sobre existência, em Williamsburg, de vagas num colégio dotado de fundos para a educação de jovens índios (cotas???), que o governo se responsabilizaria para que fossem bem tratados e aprendessem todos os conhecimentos do homem branco. O representante dos índios agradeceu e respondeu negativamente: “Os sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e da ideia de educação. Muitos dos nossos atuais homens foram formados nas escolas do Norte, aprenderam muita ciência, mas voltaram maus corredores, ignorantes da vida da floresta, incapazes de suportar o frio e a fome, não sabiam caçar veado, matar o inimigo, construir uma cabeça e já falavam a língua nativa muito mal, agora inúteis como guerreiros, caçadores ou conselheiros.” Em contrapartida, ofereceu que lhes enviassem jovens nobres da Virgínia para aprenderem com os índios a serem outros homens.”

------------------------------------------------------------------

FONTE:

Revista ESCOLA – SP. Junho-julho/2003.

F I M