Prisioneira do medo
Certo dia encontrei, por acaso, uma velha amiga de escola, demonstrei aquela típica preocupação como todos fazem; começamos a conversar sobre o rumo que tomou nossas vidas, tão diferente, mas percebi que uma única coisa não havia mudado, ambas dependiam do conforto do ônibus para trabalhar. Começamos a ri feito bobas naquele momento, pois chamávamos o motorista de chofer e o desconforto de luxo momentâneo, aquele era o único chofer que sempre recebia gorjetas, como dizem: “Quem não tem cão caça com o gato.” Ela me contou que certo dia voltando para casa, correu feito louca para chegar no horário da limousine, mas infelizmente ela já tinha passado, a próxima demoraria minutos ou até mesmo horas, sendo assim sentou-se no banco de espera, ocupando a única poltrona oferecida pelo local; mas já era tarde do dia e quanto mais aguardava mais notada o lugar, casa trancadas, ruas vazias, o vento soprava seus cabelos formando uma melodia silenciosa; parecia ser a única sobrevivente após um holocausto, isso começou a despertar-lhe um medo, medo por ser mulher, medo por existir em um mundo girado pela desconfiança de tudo, começou a ficar apavorada com a situação e ter medo até mesmo do próprio medo que a cercava. Achei esse o momento perfeito para recitar Shakespeare: “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.” O fato é que não importa o que aconteça, o medo deve ser tratado como um vírus mortal.
Teresina, 27.08.16
Autora: Marta Santana