Macaquices e Fantasmagorices


 
As Paralimpíadas traz à memórias incidentes da recente olimpíada... e outros tantos incômodos preconceituosos.
 
Não faz muito a televisão mostrou e os jornais publicaram o preconceito étnico de brancos jogando bananas e fazendo macaquices para atletas afrodescendentes em outras competições atléticas.
 
Nas olimpíadas o atleta francês chorou ao perder sua predileção pelo ouro olímpico. Seu técnico argumentou dizendo que foi mandiga feita em terreiros de macumbas. Em pleno pós-moderno, europeus, que se dizem tão civilizados, ainda acreditam em vodu – deve ser recalque do que sofreram quando franceses foram expulsos do Haiti pondo fim ao colonialismo ali.
 
Eu já fui testemunha deste preconceito étnico envolvendo europeus e afrodescendentes brasileiros.
 
Quem “turisma” pelas bandas de Paraty sabe que o ponto central turístico daquela área é esta cidade fluminense. A sensação praieira é Trindade. Para ir da cidade histórica à vila de pescadores há vários meios: embarcações, utilitários particulares e públicos.
 
Paraty é muito mais história de exploração colonial ou literatura “embranquecida”. É uma descoberta de cultura – é como gosto de percebê-la: “A Esquina de Mundos”.
 
Se as noites são no centro histórico, as praias, trilhas, banhos são em Trindade. O bom é ir de ônibus – a Babel em quatro rodas: europeus, estadunidenses, latinos, quilombolas e indígenas se comunicando em uma diversidade enorme de línguas e culturas. Atravessa-se, neste meio locomotivo carregado de turistas, antigos quilombos transformados em urbes e floresta tropical. Sobe serra, desce serra e de uma praia à outra o verde esmeralda da mata cede ao turquesa do mar acobertado por cerúleos e plúmbeos. Sol e chuva.
 
Nem tudo são flores. Ainda há ervas daninhas do preconceito étnico.
 
Eu estava na pitoresca rodoviária de Paraty – bem latina, onde não só pessoas embarcam como também porcos e galinhas, e sacos de mantimentos. Naquela ocasião um grupo de europeus setentrionais aguardava  com sua líder de turismo o embarque. Nisto apareceu uma família afrodescendente. Além do espaço rodoviário famílias indígenas vendiam quinquilharias.
A branquidão europeia se distinguia entre tantos tons morenos de pele. Até seus olhos de tão claros camuflavam-se à cor de sua pele – pareciam ter tomado uma ducha de farinha de trigo – e de seus cabelos palha.
 
A líder turismóloga  para fazer graça aos seus guiados começou com as mãos se coçar e aos demais à moda de macacos e a gruir. Riam e riam.
 
Pensei em vingança por ter meu orgulho de brasileiro miscigenado ofendido: estão debochando de brasileiros ou são fantasmas de tão brancos beirando à transparência vítrea sem educação que desrespeitam o humano e os espaços alheios? Deu vontade de denunciá-la fazendo um Boletim de Ocorrência policial para que fosse punida e perdesse seu alvará como líder de turismo, mas deixei para lá por que requeria demanda para acompanhar o processo.
 

A minha antipatia por aquela “mulher-fantasma” de outros mundos foi saciada quando meus olhos perceberam que ela era careca da metade para frente de sua cabeça imprimindo uma imagem nela daqueles macacos albinos de pele rosa e pelos brancos. Era o verso debochando do reverso, complexo da feiura que trazia em si.
 


 
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 19/08/2016.

   
 
 

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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 10/09/2016
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