Crônicas de uma vida vivida
Dentre o largo repertório sobre as tantas histórias e estórias antológicas sobre minha vida, as quais deliciava-me ouvir quando retornava a minha cidade natal e frequentava o salão do Toninho Barbeiro, ao lado do Cine São José e hoje Teatro Stenio Garcia, muitas delas propagadas por Didiu e por Antoninho Mota, dois grandes amigos que já se foram para outras esferas, o primeiro por trabalhar comigo e o segundo por suas constantes visitas ao escritório onde labutávamos no Rio de Janeiro, por verdadeira, esta hoje me é permitido compartilhar.
Durante quase que toda a década de 80, em decorrência do automóvel Phoenix que lançara, uma réplica em fibra de vidro da Mercedes Benz 280 SL e mundialmente conhecido como Pagoda, com mecânica do Opala 6 e 4 cilindros, por seu ineditismo e também pela quase perfeição da cópia, diariamente os jornais e revistas brasileiras e internacionais, além das emissoras de televisão, divulgaram reportagens com fotos e imagens do modelo e minha ao lado deles, com as entrevistas que concedera.
Pela primeira vez, em toda sua existência, a cidade de Mimoso foi tão citada naquelas reportagens, pois sempre manifestei minha procedência, de que me orgulho, que não fossem em páginas policiais ou de tragédias, salvo quando o Ypiranga bateu o time do Operários, de Muqui, pelo placar de treze a zero.
O Departamento de marketing da Empresa era bem atuante e tínhamos um recorde de obtermos u´a média de três reportagens nos diversos e principais jornais brasileiros a cada quatro dias, cujos recortes até hoje mantenho colecionados em grossas pastas, as quais de vez em quando folheio a lembrar esse tempo glorioso e que serão deixadas para algum neto que queira um dia remontar sua ancestralidade.
A história que passo a relatar é verídica, dentre as tantas lendas que cercam esse período e a divulgo principalmente para o acervo de Gerson França e Renato Pires Mofati, além de Walter Renoldi e Luiz Carlos Del Esposti, que compartilham tudo que posto e principalmente deste novo amigo, Bruno Malaquias, que ainda tem e preserva carinhosamente seu exemplar e que me solicitou que divulgasse as histórias pertinentes, como abaixo:
No ano de 86 fomos para São Paulo para participarmos do Salão do Automóvel, no Anhembi, evento dos mais importantes, com repercussão internacional. Havíamos alugado uma grande área, onde expusemos inúmeros automóveis de nossa fabricação, nos diversos modelos existentes, com capota de lona, com capota rígida, com ambas as capotas, com todas as logomarcas possíveis, além de nosso mais recente lançamento, o Mignone, precursor de uma nova filosofia de automóvel compacto urbano e para dois ocupantes e que somente veio a se consolidar duas décadas após.
Na parte frontal de nosso stand, posicionamos um modelo conversível com todas as logomarcas originais Mercedes e em que instalamos um sistema de combate a incêndio conjugado com jogo de luzes vermelhas, o qual era acionado automaticamente a cada vez em que o capô dianteiro era aberto, por força dos amortecedores do veículo, o que nem mesmo a Mercedes original fazia.
Era uma sensação nos visitantes da feira a cada vez que as belíssimas atendentes acionavam a abertura do capô para algum cliente, com a conseqüente descarga do gás carbônico e as luzes se acendendo, ouvindo-se aquele usual “Ohhhh” de admiração, não sei bem se para o carro ou para suas belas coxas provocantes e sensual e sutilmente mostradas pelas modelos ao se sentarem no Phoenix. E a cada vez que acionado, via-se o espocar de flashes fotográficos, por inúmeras vezes. Fomos a sensação da Feira, humildemente reconheço.
Dias após o encerramento do Salão, ocasião em que fechamos muitas dezenas de contratos, recebi um telefonema do advogado que nos representava, convocando-me para uma reunião urgentíssima, cuja pauta não quis me adiantar. Lá chegando, escondido atrás do volume de um processo já com quase mil páginas, ouvi-o sentenciar:
- Muito bonito, Sr. Henrique. Olha só que bela merda o senhor nos arranjou. – E tive acesso ao processo que a Mercedes ingressara em juízo, cobrando-nos indenização no valor de venda de um automóvel por cada dia de existência da fábrica, o que representaria aproximadamente 44 milhões de dólares, já que cada carro era vendido por trinta mil dólares e existíamos há quatro anos.
Lívido, perguntei: - Bem, que podemos fazer agora? Como nos defenderemos desse processo?
- Não temos o que fazer! – sentenciou ele, enfático. – Estamos virtualmente fodidos, pois está perfeitamente documentado com centenas e centenas de fotos que você está usando indevidamente a estrela de três pontas, logomarca de propriedade deles em seu produto, o que é proibido por lei. A única coisa que posso lhe sugerir é que venda todos seus bens, pois eles inevitavelmente ganharão a causa e os arrestarão...
Nem mesmo voltei à fábrica naquele dia, fui direto para casa, arrasado. Lá chegando, após brigar com a esposa que veio carinhosamente me receber, injustamente com os filhos que estavam fazendo barulho com seus silêncios e chutar o cachorro de estimação por estar em meu caminho, peguei uma garrafa de whisky e um copo com bastante gelo e fui para o banheiro, procurando relaxar em uma banheira com água morna enquanto fumava um cigarro depois do outro, tentando me acalmar enquanto folheava o processo.
Após angustiantes horas, de repente, - “EURECA, DESCOBRI!” – Os fotógrafos profissionais, principalmente os que se dedicam ao segmento de automóveis, costumam registrá-los sempre na posição três quartos, ou seja, mostrando as partes superior e frontal do capô e a lateral do veículo, ou, de outra forma, somente as laterais do mesmo, jamais tirando fotos da parte traseira. E, sob aqueles ângulos, a cópia que fizéramos era perfeita e que somente seria denunciada tivesse ele fotografado o carro por trás, onde o cano de escapamento estava posicionado do lado contrário do da Mercedes, por injunções mecânicas do motor Opala.
Sai correndo nu pela casa com o processo na mão, pulando de alegria e liguei imediatamente para Montenegro informando-lhe de minha descoberta, enquanto abraçava a esposa e filhos e pedia desculpas a eles e ao cachorro. No dia seguinte, bem cedo, retornei a seu escritório e ingressamos com nossa defesa, alegando que a outra parte cometera um equívoco, pois o que eles fotografaram era um veículo normal de sua própria fabricação, ali somente por nós exposto para fins de comprovação da excelência de nosso trabalho.
E fomos a juízo e ganhamos a ação com nossos argumentos, ficando ainda credenciados à “reconvenção” do processo, cobrando igual valor da Mercedes, o que não fizemos pelos elevados valores da causa e também por não julgarmos devido.
Tivesse-o feito, hoje certamente seria dono de todo Mimoso ou, de outra forma, estaria junto com meu mano Ricardo Mignone Viana e nossas amadas, desfrutando a ilha que compraria no Caribe, realizando nossos sonhos.
Durante quase que toda a década de 80, em decorrência do automóvel Phoenix que lançara, uma réplica em fibra de vidro da Mercedes Benz 280 SL e mundialmente conhecido como Pagoda, com mecânica do Opala 6 e 4 cilindros, por seu ineditismo e também pela quase perfeição da cópia, diariamente os jornais e revistas brasileiras e internacionais, além das emissoras de televisão, divulgaram reportagens com fotos e imagens do modelo e minha ao lado deles, com as entrevistas que concedera.
Pela primeira vez, em toda sua existência, a cidade de Mimoso foi tão citada naquelas reportagens, pois sempre manifestei minha procedência, de que me orgulho, que não fossem em páginas policiais ou de tragédias, salvo quando o Ypiranga bateu o time do Operários, de Muqui, pelo placar de treze a zero.
O Departamento de marketing da Empresa era bem atuante e tínhamos um recorde de obtermos u´a média de três reportagens nos diversos e principais jornais brasileiros a cada quatro dias, cujos recortes até hoje mantenho colecionados em grossas pastas, as quais de vez em quando folheio a lembrar esse tempo glorioso e que serão deixadas para algum neto que queira um dia remontar sua ancestralidade.
A história que passo a relatar é verídica, dentre as tantas lendas que cercam esse período e a divulgo principalmente para o acervo de Gerson França e Renato Pires Mofati, além de Walter Renoldi e Luiz Carlos Del Esposti, que compartilham tudo que posto e principalmente deste novo amigo, Bruno Malaquias, que ainda tem e preserva carinhosamente seu exemplar e que me solicitou que divulgasse as histórias pertinentes, como abaixo:
No ano de 86 fomos para São Paulo para participarmos do Salão do Automóvel, no Anhembi, evento dos mais importantes, com repercussão internacional. Havíamos alugado uma grande área, onde expusemos inúmeros automóveis de nossa fabricação, nos diversos modelos existentes, com capota de lona, com capota rígida, com ambas as capotas, com todas as logomarcas possíveis, além de nosso mais recente lançamento, o Mignone, precursor de uma nova filosofia de automóvel compacto urbano e para dois ocupantes e que somente veio a se consolidar duas décadas após.
Na parte frontal de nosso stand, posicionamos um modelo conversível com todas as logomarcas originais Mercedes e em que instalamos um sistema de combate a incêndio conjugado com jogo de luzes vermelhas, o qual era acionado automaticamente a cada vez em que o capô dianteiro era aberto, por força dos amortecedores do veículo, o que nem mesmo a Mercedes original fazia.
Era uma sensação nos visitantes da feira a cada vez que as belíssimas atendentes acionavam a abertura do capô para algum cliente, com a conseqüente descarga do gás carbônico e as luzes se acendendo, ouvindo-se aquele usual “Ohhhh” de admiração, não sei bem se para o carro ou para suas belas coxas provocantes e sensual e sutilmente mostradas pelas modelos ao se sentarem no Phoenix. E a cada vez que acionado, via-se o espocar de flashes fotográficos, por inúmeras vezes. Fomos a sensação da Feira, humildemente reconheço.
Dias após o encerramento do Salão, ocasião em que fechamos muitas dezenas de contratos, recebi um telefonema do advogado que nos representava, convocando-me para uma reunião urgentíssima, cuja pauta não quis me adiantar. Lá chegando, escondido atrás do volume de um processo já com quase mil páginas, ouvi-o sentenciar:
- Muito bonito, Sr. Henrique. Olha só que bela merda o senhor nos arranjou. – E tive acesso ao processo que a Mercedes ingressara em juízo, cobrando-nos indenização no valor de venda de um automóvel por cada dia de existência da fábrica, o que representaria aproximadamente 44 milhões de dólares, já que cada carro era vendido por trinta mil dólares e existíamos há quatro anos.
Lívido, perguntei: - Bem, que podemos fazer agora? Como nos defenderemos desse processo?
- Não temos o que fazer! – sentenciou ele, enfático. – Estamos virtualmente fodidos, pois está perfeitamente documentado com centenas e centenas de fotos que você está usando indevidamente a estrela de três pontas, logomarca de propriedade deles em seu produto, o que é proibido por lei. A única coisa que posso lhe sugerir é que venda todos seus bens, pois eles inevitavelmente ganharão a causa e os arrestarão...
Nem mesmo voltei à fábrica naquele dia, fui direto para casa, arrasado. Lá chegando, após brigar com a esposa que veio carinhosamente me receber, injustamente com os filhos que estavam fazendo barulho com seus silêncios e chutar o cachorro de estimação por estar em meu caminho, peguei uma garrafa de whisky e um copo com bastante gelo e fui para o banheiro, procurando relaxar em uma banheira com água morna enquanto fumava um cigarro depois do outro, tentando me acalmar enquanto folheava o processo.
Após angustiantes horas, de repente, - “EURECA, DESCOBRI!” – Os fotógrafos profissionais, principalmente os que se dedicam ao segmento de automóveis, costumam registrá-los sempre na posição três quartos, ou seja, mostrando as partes superior e frontal do capô e a lateral do veículo, ou, de outra forma, somente as laterais do mesmo, jamais tirando fotos da parte traseira. E, sob aqueles ângulos, a cópia que fizéramos era perfeita e que somente seria denunciada tivesse ele fotografado o carro por trás, onde o cano de escapamento estava posicionado do lado contrário do da Mercedes, por injunções mecânicas do motor Opala.
Sai correndo nu pela casa com o processo na mão, pulando de alegria e liguei imediatamente para Montenegro informando-lhe de minha descoberta, enquanto abraçava a esposa e filhos e pedia desculpas a eles e ao cachorro. No dia seguinte, bem cedo, retornei a seu escritório e ingressamos com nossa defesa, alegando que a outra parte cometera um equívoco, pois o que eles fotografaram era um veículo normal de sua própria fabricação, ali somente por nós exposto para fins de comprovação da excelência de nosso trabalho.
E fomos a juízo e ganhamos a ação com nossos argumentos, ficando ainda credenciados à “reconvenção” do processo, cobrando igual valor da Mercedes, o que não fizemos pelos elevados valores da causa e também por não julgarmos devido.
Tivesse-o feito, hoje certamente seria dono de todo Mimoso ou, de outra forma, estaria junto com meu mano Ricardo Mignone Viana e nossas amadas, desfrutando a ilha que compraria no Caribe, realizando nossos sonhos.