o jacaré e a lama venenosa

Sou um jacaré que gosta de bastante sossego. As pessoas têm uma impressão errada a meu respeito, pois acreditam que sou feroz e agressivo. O que a maioria não sabe, é que eu não ataco, eu me defendo quando alguma coisa ameaça a minha integridade.

Gosto de ficar no fundo do rio, mergulhado na lama fria o que me faz muito bem. Ao meu redor circulam peixes os mais variados, que são capturados por seres estranhos, que eu ouvi dizer que se chamam seres humanos.

Essa expressão me trouxe um pensamento muito esquisito: será que sou humano também? Procurei saber do que eles gostam e tirar minha dúvida. Verifiquei que eles gostam de experimentar coisas variadas, brigam entre si, matam uns aos outros, se apoderam de bens materiais, e algo que eu ouvi que me entristeceu muito: agridem o meio ambiente e destroem a natureza.

Vou lhes contar o que aconteceu: estava eu "posto em sossego" no meu rio predileto de águas claras transparentes, alias um encanto de rio, onde já habitava por muitos anos inúmeros peixes e até exemplares raros, quando em uma manhã fatídica, fomos acordados por algo que se locomovia lentamente, nos sufocando. Lembro-me que tentava respirar e não conseguia, ao meu redor, velhos amigos com quem conversava diariamente, já não se moviam. A cor do rio havia mudado para um marrom asqueroso e aqueles que ainda conseguiam se locomover, fugiam apavorados.

Assustado, quase em pânico, consegui me arrastar por quilômetros, sendo perseguido por aquela coisa mortal. Alguns peixes mais velhos e mais sábios me disseram ser uma lama assassina. Sobrevivi.

Os que sobreviveram, choraram juntos a grande perda. Dizem que a recuperação do meu rio levará anos.

Desde então tenho um único pensamento: esses seres humanos são muito mais ferozes que eu.

Prefiro ser jacaré.

Heloísa Mamede
Enviado por Heloísa Mamede em 08/09/2016
Reeditado em 16/09/2016
Código do texto: T5754069
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