A Ricaça#
Quando alguém quer fazer alguma coisa pelos outros não existem desculpas mal feitas, só para impressionar as pessoas.A falta de dinheiro não é problema.O problema é a falta de vontade.Porque há momentos de doação que não têm preço; uma visita a um hospital, uma conversa gostosa com um desconhecido ou um abraço amigo.Uma força atrai a outra e quando nos unimos, tudo conspira e evolui.
Desde que Verônica ficou viúva não levantou mais o “popozão” do sofá.Seus filhos já eram crescidos, ela estava aposentada e não queria ter compromisso com nada deste mundo que não fosse a sua televisão colorida, principalmente com a novela das oito que lhe arrancava rios de lágrimas.
Ah, tanta miséria assim deixava Verônica acabada, envelhecida e com muita raiva das injustiças sociais.E aqueles velhinhos abandonados no asilo? Cortavam seu coração!Ela jamais conseguiria pisar num lugar assim : tinha dó! – argumentava.
Aliás, na verdade, ela tinha comodismo.
Para aquele que quer fazer não existe desculpas e esta ladainha é velha.Precisamos de atitudes.
Então Verônica, com toda a sua solidão , sentia-se morta para o mundo e era viciada no seu analista, sempre repleta de tédios e emoções reprimidas. Preferia passar o tempo sem tempo, reclamando da vida e sem fazer nada por ela.
A sua família morava longe e não existia UM cristão que lhe desse carinho.E sem amigos, fica difícil!Mas Verônica também nunca procurou a amizade de ninguém.
Tem tanta gente por aí esperando uma outra gente e fica sozinho, com a vassoura na mão, vendo a vida passar pela telinha da T.V.
Ela ainda se abismava com os últimos acontecimentos, dizendo para si mesma que se um dia ficasse rica, ah, se um dia tivesse uma grana, visitaria todas as creches, os asilos, as favelas e faria, com certeza, “aquela”doação de peso .
Correria o mundo com a sua bondade, espalhando a semente do amor ao próximo.E se no final das contas sobrasse alguma migalha do dinheiro, compraria uma bobeira para ela.Alguma coisa do Paraguai, talvez um bibelô para a estante da sala ou um relógio cuco.
Mas quanta demagogia! Deus se cansou de ouvir suas promessas furadas e fez uma brincadeira com Verônica, para que ela percebesse que às vezes não é bem assim. De repente ela foi premiada com uma fortuna tão grande que desta vez daria para demolir o mundo e mandar ladrilhar um outro, novinho em folha.
QUASE PIROU! Gritava aos quatro ventos que era uma mulher de muita sorte.Mandou erguer um monumento em sua homenagem em plena praça pública.Depois resolveu dar uma recauchutagem no visual, porque ninguém é de ferro, e fez um monte de cirurgias plásticas, se sentindo a própria Miss Rancho da Pamonha.Colocou uma peruca lilás, fez implante de nariz, enxerto na boca e canela de silicone. Mudou de casa, de endereço e até de nome.
Sumiu do mapa e nunca mais ninguém ouviu sequer falar o nome de Verônica.Fez-se na vida, rodeada por futilidades.Agora era uma outra pessoa: Zuleika Tompson Jacson e nem se lembrava mais das criancinhas com fome ou dos velhinhos abandonados.Coisas do passado, baby.Página virada!
Porém Deus estava de butuca, esperando o seu amargo regresso.O tempo passou ligeiro e quando aquela belezura subiu a rampa celestial, mortinha da ‘SILVA” e com carinha toda amarrotada de tanto chorar , já foi com o discurso pregado na ponta da língua, pois sabia que o Criador lhe perguntaria sobre tudo que havia feito com tanta riqueza.
- Puxa, o Senhor é muxiba, hein? O dinheiro estava contadinho!
Foi nesta hora que o Criador Indignado, comentou sobre os carros que ela havia comprado, sobre os sítios e as casas.E se fazendo de “boba” resmungou que aquele dinheirinho todo não deu pra quase nada. Não deu nem para comprar um barquinho velho, aonde pudesse cruzar Ubatuba-Parati, quanto mais dar algum trocado á alguém.
Então o Criador suspirou lhe explicando que para ajudar uma pessoa não é preciso oferecer nenhum bem material.Um sorriso alegra, um abraço aconchega e uma palavra renasce a esperança.
Isto tudo não tem preço, mas é a maior riqueza que podemos doar á alguém.E quanto mais se doa, mais ricos ficamos.Ricos de dentro para fora, contagiando o mundo com a nossa alma iluminada, como uma peça de ouro resplandecente!