Sete de Setembro
Lembro-me. Que ansiedade! Era pobre, e só tinha uma saia de tergal azul marinho, pregueada, uma camiseta branca, que, cuidada com tanto desvelo por minha mãe, chegava a brilhar de tão alva. A semana que antecedeu à data, fiquei ansiosa, -- e se chovesse, como secar meu uniforme? Triste, preocupada, porque não tinha sapatos e nem dinheiro pra comprar um. Recorri ao diretor da escola, homem de poucas palavras, nenhum sorriso nos lábios, austero, mas sensível às necessidades dos carentes. Pra chegar até ele, confesso que tremi dos pés à cabeça. Saí em silêncio, mas por dentro a alma gargalhava. Poderia sim, desfilar naquele sete de setembro de 1966. A professora de Educação Física havia nos ensaiado a semana toda com a fanfarra que desfilaria à nossa frente. E aqueles sons de tambores, majestosos, retumbavam no coração, davam o ritmo , o compasso do patriotismo, do orgulho de sermos brasileiros. Marchávamos compenetrados, em silêncio, sem olhar para direita ou para esquerda... assim cumpríamos nosso papel de pequenos cidadãos, que viam à frente um Brasil de ordem e progresso. Hoje fico pensando, o que fizeram com nossos sonhos?
Benvinda Palma